Marie Skłodowska Curie, Nobel de Química, 1911

Marie Curie: uma mulher pioneira!!! 


Bom dia, boa tarde, boa noite a todos e todas. Tudo bem com vocês? 

Ao acompanhar o nosso blog, você conhecerá a história de algumas mulheres ganhadoras do Nobel, nas diversas áreas: Física, Química, Paz, Literatura e Medicina/Fisiologia.

Vamos conhecer hoje uma das mulheres que não ganhou apenas um prêmio, mas sim dois? E um “pequeno” detalhe, em áreas distintas.

Ela nasceu no dia 07 de novembro de 1867 na cidade de Varsóvia no Império Russo (atual Polônia), seu nome era Marya Salomea Sklodowska.



Na época do seu nascimento, a Rússia e a Alemanha haviam dividido a Polônia entre si e estavam dispostos a destruir os vestígios de cultura e nacionalismo deste povo. Os pais de Marya, Wladyslaw e Bronislawa eram professores, ele lecionava física e matemática para o colegial, e ela era cantora e pianista, além de ser diretora em período integral de uma escola particular para meninas. Marya, filha caçula do casal, tinha três irmãs e um irmão. Desde menina teve acesso ao laboratório de seu pai, o que despertou sua curiosidade e, mais tarde, o amor pela Ciência. Quando Marya tinha apenas oito anos, viu sua irmã mais velha morrer de tifo e dois anos depois, sua mãe falecer devido à tuberculose.

 

Wladyslaw e Bronislawa (pais de Marya) 

Fonte: Wikimedia Commons; Domínio Público.


Wladyslaw e suas três filhas, Marya (à esquerda), Bronislawa e Helena

Fonte: Wikimedia Commons; Domínio Público.


Então, vamos conhecer os primeiros passos de Marya?

Na época em que ela viveu a educação escolar não era acessível a todos, muito menos para as mulheres. Contudo, os seus pais sempre estimularam seu filho e suas filhas a estudarem. A escola em que Marya estudava não foi nada amistosa, pois era dirigida por russos e mantida sob um regime de intimidação e opressão política, o qual demitia docentes e punia estudantes que falassem seu idioma original (polonês). A preservação da cultura desse povo recaiu sobre os jovens da classe média, como Marya.

Aos 15 anos ela concluiu os seus estudos iniciais, o equivalente ao Ensino Médio no Brasil, e ganhou uma medalha de ouro por ser a melhor aluna da classe. Contudo, Marya se viu impedida de continuar estudando, pois o governo russo proibia as mulheres de ingressarem em qualquer universidade dentro do império. Além disso, naquele momento da história, as mulheres não tinham o direito de frequentar faculdades em muitos territórios, inclusive aqui no Brasil, por exemplo, isso só foi possível a partir de 1979. Por isso, ela fez um acordo com sua irmã, Bronislawa, a qual ela ajudaria a pagar seus estudos de medicina em Paris até que Marya também pudesse se mudar para lá. Enquanto isso não fosse possível e como forma de conseguir seu sustento e ajudar a irmã, Marya trabalhou como governanta para uma família abastada, dando aulas particulares a duas crianças da família e ficando à disposição no tempo restante. Além de ensinar crianças polonesas a ler e escrever, ela aproveitava seu tempo livre para estudar a partir de cartas que seu pai lhe escrevia ensinando matemática e de seu livre acesso à biblioteca técnica de uma usina.

Mas será que ela conseguiu se mudar para a França?

A resposta é afirmativa, e a sua jornada inicial lhe preparou para que no ano de 1891, aos 24 anos, ela se mudasse para Paris, onde assumiu o nome Marie, para estar de acordo com a grafia francesa.

Na França, Marie foi admitida na Universidade de Sorbonne para cursar bacharelado em Física e Matemática e no ano de 1893 recebeu o título equivalente a bacharel em Física e no ano seguinte em Matemática. Neste mesmo ano, conheceu Pierre Curie, professor da Universidade e diretor de um pequeno laboratório na Escola Municipal de Física e Química Industrial, onde trabalhava com cristais e substâncias magnéticas. No ano de 1895 se casaram e a partir desta celebração ela passou a se chamar Marie Curie. O casal teve duas filhas, Irène Joliet-Curie nascida em 1897 e Ève Curie que nasceu em 1904.

 


Pierre e Marie Curie

Fonte: Wikimedia Commons; Domínio Público.

 

Vamos conhecer melhor a sua pesquisa?

Marie Sklodowska Curie iniciou seu doutorado partindo dos estudos iniciais de Henri Becquerel que percebeu a radioatividade do urânio em 1896. No ano seguinte, em 1897, Marie realizou um estudo da radiação dos compostos de urânio e concluiu que apenas os compostos de tório se comportavam de maneira semelhante. Contudo, ao estudar os minerais pechblenda, chalcolita e autunita, a atividade radioativa foi maior que o esperado, o que a levou a pensar, que deveria haver algum material diferente do conhecido até aquela época que explicaria o ocorrido. O trabalho dela foi tão promissor que Pierre abandonou seu campo de pesquisa e se juntou a ela na análise dessa propriedade radioativa do mineral denominado pechblenda.


Marie em seu laboratório

Fonte: Wikimedia Commons; Domínio Público.


Entretanto, Marie e Pierre não conseguiram determinar qual material seria esse utilizando apenas os métodos químicos conhecidos na época, o que os fez criar um método com base na radioatividade como propriedade atômica da matéria. Como resultado desse trabalho, o casal propôs a existência de dois elementos químicos mais radioativos que os sais de urânio até então conhecidos. O primeiro recebeu o nome de polônio, em homenagem a terra natal de Marie e, o segundo, de rádio, devido à energia liberada por ele. Os termos radioativo e radioatividade também foram provenientes desse estudo. Em consequência a essa pesquisa, o casal recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1903 juntamente com Henri Becquerel. Todavia, o nome de Marie não estava entre os agraciados com o prêmio, mas Pierre não aceitou essa exclusão e honrou o trabalho dela exigindo que os organizadores a incluíssem.

Nada mais justo, né? Você se lembra que dissemos acima que a proposta desta pesquisa foi dela? Ela foi a autora principal das pesquisas premiadas.

Neste mesmo ano Marie concluiu seu doutorado em Ciências pela Universidade de Sorbonne, entrando para história como a primeira mulher a obter este título. O ano de 1903 foi um ano muito representativo na luta feminina e Marie se mostrou um grande exemplo. A primeira doutora em Ciências e a primeira MULHER a receber o Prêmio Nobel. É importante lembrar o quão isso é significativo, pois a sociedade daquela época não permitia as mulheres condições e nem mesmo acesso a essa área.

 Mas calma aí, você acha que ela se contentou com “apenas” isso?

A resposta é NÃO, pois Marie queria mais e continuou seus estudos sobre a então radioatividade.

Mas a vida sempre guarda “surpresas” e muitas delas são desagradáveis. Em uma tarde chuvosa no ano de 1906 Pierre sofreu um acidente e foi atropelado por uma charrete. Isso mesmo, uma CHARRETE, lembre-se que naquela época a sociedade e os meios de locomoção eram diferentes dos atuais. Por mais que esperassem que Marie sofresse o luto, ela decidiu continuar seu trabalho e criar suas duas meninas. Naquele mesmo ano, madame Curie assumiu a cadeira de Pierre na Universidade de Sorbonne, tornando-se a pioneira no cargo de professora de Física Geral.

Ainda em 1906 um fato abalou a história de Marie, um lorde, senhor William Thomson Kelvin, escreveu para a Times, uma revista em Londres, anunciando que o rádio não era um elemento químico, mas sim um composto de chumbo e hélio. Marie, que havia isolado o cloreto de rádio em 1902, continuou seus estudos em um trabalho árduo que durou quatro anos e em 1910, isolou o rádio como um metal puro, comprovando a sua existência e documentando as propriedades dos elementos radioativos e seus compostos. Estes compostos se tornaram importantes em experimentos científicos como fontes de radiação e foram usados para tratamento de tumores no campo da medicina.

Marie se mostrou forte e sua trajetória mostrou a todos que ela não era apenas a esposa de um cientista renomado, mas sim, a cientista que, além de receber o Nobel de Física em 1903, foi laureada SOZINHA com o Prêmio Nobel em Química no ano de 1911. Este prêmio foi concedido 111 vezes, com um total de 183 laureados, destes, apenas 5 eram mulheres!

O trabalho que lhe deu esse segundo prêmio teve como pesquisa a determinação dos novos elementos químicos rádio e polônio, o isolamento do rádio e todas as suas contribuições que geraram conhecimento no campo da radioatividade. Contribuições essas que teorizaram a existência de 30 novos elementos, os quais não eram caracterizados ou isolados por métodos químicos. Dessa forma, ter isolado o rádio pode ser considerada como a “pedra de fundação” da Radioatividade.

 

 Prêmio Nobel de Química

Fonte: Wikimedia Commons; Domínio Público.


Em 04 de julho de 1934, ela faleceu de leucemia em uma clínica nos Alpes franceses. Naquela época, ainda não se conheciam os perigos da radioatividade, e seu trabalho e a exposição constante, certamente contribuíram para o seu adoecimento.

A vida de Marie terminou, porém a sua história e estudos continuam vivos e são muito importantes para a Ciência e para a humanidade.

Que história, né, gente?

Você se lembra dos principais fatos da vida desta cientista que representaram muito para a luta pelo espaço da mulher?

            Marie Curie foi a primeira mulher a:

1.    Ganhar o prêmio Nobel;

2.    Ter um doutorado em Ciências;

3.    Assumir o cargo de professora na Universidade de Sorbonne;

4.    Ser laureada com o prêmio Nobel em duas Ciências diferentes, Física e Química;

5.    Ganhar o prêmio Nobel de Química sozinha.

Algumas curiosidades sobre madame Curie...

Ao longo da sua vida, Marie dedicou-se a promover o uso do rádio para alívio do sofrimento, pois os Raios-X foram úteis no tratamento de ferimentos por arma de fogo e fraturas, além do gás que emanava do elemento rádio ser utilizado no tratamento de câncer.

Na época da Primeira Guerra Mundial, ela trabalhou com o rádio para aliviar as dores dos envolvidos.

Em 1920, teve apoio das mulheres americanas representadas no nome de Missy Meloney, uma jornalista de uma revista feminista americana Delineator, que a ajudou a angariar fundos e comprar rádio, material caro na época, para seus estudos.

No ano de 1926, Marie esteve no Brasil e participou de várias conferências sobre radioatividade no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Belo Horizonte.


Meloney, Irene, Marie e Eve Curie nos Estados Unidos em 1921

Fonte: Wikimedia Commons; Domínio Público.


 Foi muito bom poder compartilhar essa história com vocês.

Um abraço e nos vemos na próxima semana. Qual será a trajetória que iremos conhecer?


 Por Heidi Mara dos Santos Eiglmeier e Tatiana R. G. Simões

 

Mais sobre essa cientista

  • Livro “Marie Curie, uma história de amor à ciência” de Lindamir Salete Casagrande.
  • Livro “Mulheres que ganharam o Prêmio Nobel em ciências: suas vidas, suas lutas e notáveis descobertas” de Sharon Bertsch McGrayne.
  • Documentário francês “Marie Curie: Une Femme Sur le Front” traz a história de Marie durante a primeira guerra mundial e o seu auxílio no tratamento dos feridos. Ele pode ser visto na integra no Youtube no link:https://www.youtube.com/watch?v=Q22KBwlqW-8.
  • Animação “Marie Curie” aborda como ela venceu os preconceitos e desvendou os mistérios da radioatividade. Ele pode ser visto na integra no Youtube, no link: https://www.youtube.com/watch?v=M4bFpBPS9Uo.
  • Filme “Radioactive”, dirigido por Marjane Satrapi está para ser lançado neste ano. O trailer já está disponível (Licença CC BY-NC-ND 4.0) e pode ser assistido a partir do link: https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/radioactive-trailer-mostra-batalha-de-marie-curie-por-reconhecimento/.


 Referências:

CASAGRANDE, Lindamir Salete. Marie Curie, uma história de amor à ciência. 1. Ed. Curitiba: Inverso, 2019.

 MARIE CURIE. [S. I: s. n.], 2017. 1 vídeo (25min 58seg). Publicado pelo canal PLANETA BIOLÓGICO Português. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=M4bFpBPS9Uo. Acesso em: 29 jul. 2020.

 MARIE CURIE NA GUERRA - Filme 2014. [S. I: s. n.], 2018. 1 vídeo (01h 24min 06seg). Publicado pelo canal DOCUMENTARYONDEMAND Português. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Q22KBwlqW-8. Acesso em: 29 jul. 2020.

MARIE Curie. Canal Ciência, Brasília, 4 out. 2019. Disponível em: http://www.canalciencia.ibict.br/nossas-informacoes/ciencioteca/personalidades/item/325-marie-curie. Acesso em 03 jul. 2020.

MARIE Curie – Facts. NobelPrize.org. Nobel Media AB 2020. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/facts/facts-on-the-nobel-prize-in-chemistry. Acesso em 03 jul. 2020.

MARIE Curie – Facts. NobelPrize.org. Nobel Media AB 2020. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/1911/marie-curie/facts/. Acesso em 03 jul. 2020.

MARIE Curie – Biographical. NobelPrize.org. Nobel Media AB 2020. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/1911/marie-curie/biographical/. Acesso em 03 jul. 2020.

 MCGRAYNE, Sharon Bertsch. Mulheres que ganharam o Prêmio Nobel em ciências: suas vidas, suas lutas e notáveis descobertas. São Paulo: Marco Zero, 1994. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=p4XSGPTzV_kC&oi=fnd&pg=PA7&dq=premio+nobel+&ots=qdB3YZ2BYO&sig=q72Jskp0uElWC1FqOk2KhY3zcjM#v=onepage&q=premio%20nobel&f=false. Acesso em 03 jul. 2020.

WIKIMEDIA COMMONS. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/Maria_Sk%C5%82odowska-Curie. Acesso em 01 de julho de 2020.

WIKIMEDIA COMMONS. Wladyslaw e Bronislawa (pais de Marya). Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/94/Rodzice.jpg. Acesso em 01 de julho de 2020.

WIKIMEDIA COMMONS. Wladyslaw e suas três filhas, Marya (à esquerda), Bronislawa e Helena. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sklodowski_Family_Wladyslaw_and_his_daughters_Maria_Bronislawa_Helena.jpg. Acesso em 01 de julho de 2020.

WIKIMEDIA COMMONS. Marie Curie. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Marie_Curie_1900_-_DIG17379.jpg. Acesso em 01 de julho de 2020.

WIKIMEDIA COMMONS. Pierre e Marie Curie. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2e/Pierre_Curie_et_Marie_Sklodowska_Curie_1895.jpg. Acesso em 01 de julho de 2020.

WIKIMEDIA COMMONS. Marie em seu laboratório. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d7/Marie_Curie_in_her_laboratory.jpg. Acesso em 01 de julho de 2020.

WIKIMEDIA COMMONS. Prêmio Nobel de Química. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4c/Marie_Sk%C5%82odowska-Curie%27s_Nobel_Prize_in_Chemistry_1911.jpg. Acesso em 01 de julho de 2020.

WIKIMEDIA COMMONS. Meloney, Irene, Marie e Eve Curie nos Estados Unidos em 1921. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Meloney-with-Irene-Marie-and-Eve_Curie-1921.jpg. Acesso em 01 de julho de 2020.

Comentários