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O Nobel da Física é dos que exibem uma triste, mas nada surpreendente realidade da Ciência: SOMOS POUCAS!
Desde a entrega do primeiro prêmio da Fundação Alfred Nobel, apenas três mulheres foram laureadas na área da física.
Sessenta anos após o reconhecimento do grandioso trabalho de Marie Curie, Maria Goeppert Meyer, foi a segunda, e uma das poucas mulheres a ser reconhecida pela fundação nesse campo de conhecimento.
No entanto, é lamentável que uma cientista com a capacidade de Goeppert não tenha seu nome tão conhecido pela nova geração, como é o caso dos nomes de físicos homens, dos quais você provavelmente já ouviu falar, como Albert Einstein, Werner Heisenberg, Max Planck e Stephen Hawking.
Mas ela não pode mais permanecer invisibilizada! Conhecer o seu brilhante trabalho e sua história, são cruciais para que cada vez mais, MENINAS e MULHERES lutem pela equidade na Ciência e sintam-se motivadas a seguir a carreira científica.
Em 1963, Meyer foi premiada por suas contribuições para a física teórica, mas, até ser reconhecida como a física mais importante de seu tempo, enfrentou, assim como outras tantas cientistas, uma trajetória na Ciência marcada pela desigualdade.
Maria Goeppert Mayer
Fonte: United States Department of Energy; Domínio público.
O tratamento dado a homens e mulheres cientistas sempre foi desigual em função do gênero. Há muito tempo os homens têm sido privilegiados, não só na esfera científica, mas no meio social, familiar e cultural.
Você consegue imaginar Einstein não podendo exercer a profissão de forma remunerada, após anos de treinamento e dedicação, só porque sua mulher é uma cientista em pleno exercício de sua profissão?
É tão absurdo que mal conseguimos imaginar! Não é?
Mas foi exatamente o que Maria Goeppert Meyer enfrentou!
É por meio da discriminação em função do gênero que as mulheres enfrentam obstáculos que as impedem de trilhar o caminho da Ciência em pé de igualdade com os homens.
A história de vida dessa cientista é de resistência e sucesso. Vamos conhecer?
Maria Goeppert Meyer nasceu em 1906, e embora tenha vindo de uma família de acadêmicos e cercada de cientistas, não encontrou dificuldade de acesso à educação universitária, como era comum acontecer, naquela época, com outras mulheres. Seu pai, Friedrich Goeppert era professor de pediatria na Universidade de Göttingen, e foi por meio do incentivo dele que ela desenvolveu sua curiosidade pela Ciência quando era ainda uma criança. E com o consentimento da família, frequentou o Ensino Superior.
Ingressou em 1924 na Universidade de Gottinge, e lá estudou matemática, mas a física lhe despertou grande interesse e mudou de área.
Nome de rua em homenagem à Maria Goeppert Mayer.
Fonte: Looniverse; Licença: CC BY-SA 4.0.
Em 1930, obteve o doutorado na área da Física Teórica. Foi orientada por ninguém menos que o físico Max Born, que anos mais tarde viria a ser ganhador do Nobel, e que foi o nome fundamental para o desenvolvimento da mecânica quântica. Além do orientador, participaram no comitê de doutoramento outros dois importantes nomes da Física, como Adolf Otto Reinhold Windaus e James Franck.
No mesmo ano, conheceu o químico norte americano Joseph Edward Mayer, e mudou-se com o esposo para os Estados Unidos, onde ele trabalharia como professor de Química na Universidade Johns Hopkins.
Mas apesar do seu doutorado, Maria foi tratada como inferior e trabalhava como assistente e sem remuneração, uma vez que as regras das Universidades impediam que ela e o marido fossem contratados ao mesmo tempo nas instituições.
Em 1939, o marido aceitou uma vaga de professor associado na Universidade de Columbia, e o que poderia ser a chance de exercer a profissão de maneira remunerada em um nível compatível com seu grau de treinamento, não ocorreu. Lá Maria se deparou com uma Universidade profundamente conservadora e de predomínio masculino. E mais uma vez, as regras institucionais a impediu de ir mais longe.
Maria Goeppert Mayer em uma cerimônia.
Fonte: Smithsonian Institution.
Em 1941, pela primeira vez em sua carreira, Maria assumiu uma posição oficial como membro do corpo docente na instituição Sarah Lawrence e passou a exercer de maneira remunerada a profissão de professora.
No período da segunda guerra, juntou-se ao Projeto Manhattan, pois seus conhecimentos de física e química seriam úteis para prever os efeitos da isotropia de urânio. E foi sob a direção de Harold Urey e colaboração dela e de outros cientistas, que o desenvolvimento da bomba atômica foi possível.
Embora Maria tenha sido finalmente remunerada para trabalhar na pesquisa científica, enfrentou um momento particularmente difícil na esfera familiar: A dificuldade de conciliar a carreira científica com os cuidados dos filhos e da casa. Não houve outra alternativa para Maria durante aquele período, senão deixar os filhos sob os cuidados de uma babá. No entanto, devido à exaustão no trabalho, as diversas viagens para estar próxima dos filhos, e a responsabilidade de criá-los, nem sempre podendo estar presente, que Maria adoeceu, impossibilitando-a de exercer a profissão por um período.
Em 1946, Joseph recebe uma oportunidade de trabalho, levando a família Meyer a mudar-se para Chicago. Mas, apesar de Maria ter adquirido grande respeito por suas contribuições científicas, viria a trabalhar novamente sem remuneração no Instituto de Estudos Nucleares da Universidade de Chicago.
Ao mesmo tempo, e finalmente com um salário compatível com seu grandioso conhecimento e experiência, foi convidada a atuar como Física Sênior na Divisão de Física Teórica do Laboratório Nacional de Argonne.
Anos mais tarde, em 1949, viria a desenvolver juntamente com Hans Jensen e outros dois físicos, o modelo matemático para a estrutura nuclear em camadas, que lhes rendeu o reconhecimento, em 1963, da Fundação Nobel.
POR QUE GANHOU O NOBEL DE FÍSICA EM 1963?
Maria Goeppert Mayer colaborou imensamente para o entendimento da ciência da física nuclear. A física foi laureada com o prêmio Nobel de Física em 1963 devido a criação de um modelo matemático para a estrutura de reservatórios nucleares - modelo nuclear em camadas. A premiação foi conjunta com Johannes Hans Daniel Jensen e Eugene Paul Wigner.
Goeppert Mayer e Marie Curie permaneceram mais de meio século como as duas únicas mulheres a ganhar o prêmio Nobel em física até 2018, ano no qual Donna Strickland foi laureada pelos estudos com laser. Isso mostra que há ainda um grande percurso a ser trilhado a fim de que mais mulheres sejam reconhecidas pelos seus estudos científicos. Mas exemplos como esses nos mostram que, apesar de tudo, somos resistência!
Por Jessica Jamal, Alana D’Ornelas e Clarice D. B. Amaral
Infográfico: Jéssica Jamal; @mulheresnasciencias.ufpr
PARA CONHECER UM POUCO MAIS
Joseph Ferry e colaboradores escreveram um livro da história da grande física Maria GoeppertMayer. A biografia conta de forma aprofundada sua trajetória de vida até a grande carreira na ciência.
O artigo do Ted Ideas “5 facts about women who shaped modern physics” (5 fatos sobre mulheres que moldaram a física moderna) explora alguns fatos muito interessantes para conhecermos o poder das mulheres na física e nas ciências. Muitas vezes, não tomamos conhecimento de muitos feitos femininos incríveis pela cultura de negligenciar mulheres a favor de homens. É preciso dar voz e espaço a todas!
O youtube está cheio de vídeos sobre a protagonista do texto! Há um vídeo especialmente interessante, pois é de um canal brasileiro, o IFScience. As apresentadoras do vídeo, Cristina Lorenzetti e Larissa Nascimento, expõe, de maneira fluida e ilustrada, a vida e a carreira da segunda laureada com o prêmio Nobel de física da história. O canal possui a série “Ganhadoras do Nobel de Física”, vale a pena conferir!
REFERÊNCIAS
Maria Goeppert Mayer: Revisiting Science at Sarah Lawrence College. Sarah Lawrence College. Disponível em: https://www.sarahlawrence.edu/archives/exhibits/maria-goeppert-mayer-exhibit/. Acesso em: 21 set. 2020.
La segunda mujer en ganar el Premio Nobel de Física no recibió paga por su trabajo. Hipertextual. Disponível em: https://hipertextual.com/2018/10/premio-nobel-fisica-maria-goeppert-mayer. Acesso em 21 set. 2020.
Maria Goeppert Mayer. The Nobel Prize. Disponível em: https://www.nobelprize.org/womenwhochangedscience/stories/maria-goeppert-mayer. Acesso em: 21 set. 2020.
Marie Mayer. Mulheres nas ciências. Disponível em: https://mulheresnaciencia.com.br/marie-mayer/. Acesso em: 21 set. 2020.
Quem foi Maria Goeppert Mayer, segunda mulher a receber um Nobel de física. Revista Galileu. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019/07/quem-foi-maria-goeppert-mayer-segunda-mulher-receber-um-nobel-de-fisica.html. Acesso em: 21 set. 2020.
Mulheres que
mudaram a engenharia e a ciência: Maria Goeppert Mayer. Engenharia 360.
Disponível em: https://engenharia360.com/mulheres-ciencia-maria-goeppert-mayer/.
Acesso em: 21 set. 2020.
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