Rosalyn Sussman Yalow, Nobel de Fisiologia ou Medicina, 1977

 Rosalyn Sussman Yalow: a física nuclear que superou muitos obstáculos de sua época


A desigualdade de gênero é evidenciada no prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina. O mundo científico em meados do século passado era cercado por machismos e as mulheres não eram muito bem vindas. Longas três décadas se passaram após a premiação da primeira mulher na área, Gerty Cori, até Rosalyn Sussman Yalow ser laureada, juntamente com os pesquisadores Roger Guillemin e Andrew V. Schally, em 1977. Rosalyn Yalow foi uma rara exceção de sua época, na qual ser mulher era um claro impeditivo de atingir o sucesso. Mas qual é a história dessa cientista incrível? Confere com a gente!

Rosalyn Sussman Yalow nasceu em 19 de julho de 1921, em Nova Iorque. Clara Zipper, sua mãe, era filha de imigrantes alemães. Seu pai, Simon Sussman, era descendente de imigrantes do leste europeu e nasceu em Nova Iorque. Seus pais não tiveram acesso ao nível secundário de ensino, porém buscaram garantir o máximo de educação a seus dois filhos. Uma das atividades da família eram as idas semanais até a Biblioteca Pública. Eles almejavam que Rosalyn Yallow se tornasse professora do primário, a profissão de jovens eruditas da época. A própria Rosalyn, no entanto, dizia que sempre fora teimosa e determinada, e que tinha outros sonhos para sua vida.

Desde jovem, as aptidões para matemática, física e química em Yallow já eram evidentes. Quando entrou na Universidade, destacou-se em diversas áreas do conhecimento. Na faculdade para mulheres de Nova Iorque, a Hunter (atual City University of New York), Rosalyn aflorou sua paixão pela física nuclear: para ela, esta parecia a área mais empolgante do mundo. E isso não ocorreu por acaso, pois a década de 30 se destacou por várias descobertas neste campo. Rosalyn leu a biografia de Marie Curie e compareceu a conferência de Enrico Fermi sobre fissão nuclear, o que a inspirou ainda mais. Vejam a importância da representatividade feminina nas Ciências!

Rosalyn Sussman Yalow

Fonte: Wikimedia Commons; Licença: Domínio Público

Graduou-se então em física na Hunter, a primeira mulher a atingir este feito na Universidade. Em 1941, começou a lecionar como professora assistente na Faculdade de Engenharia, na Universidade de Illinois. Novamente pioneira - era a única mulher entre 400 docentes. Seu ingresso foi possível graças ao alistamento de cientistas homens nas forças armadas com a eclosão da II Guerra Mundial. Nesse período, aliada aos seus estudos de doutorado, conheceu o estudante de física Aaron Yalow. Ele se tornaria seu marido em 1943, e constituiriam uma família com dois filhos, Benjamin e Elanna.

Em 1945, finalizou seu doutorado em física nuclear, possuindo o conhecimento de como construir e utilizar máquinas para medição de substâncias radioativas. Na sequência, tomou posto de engenheira assistente no Laboratório Federal de Telecomunicações, em Nova Iorque. Mais uma vez, Yallow via-se como a única representante feminina em toda a equipe. Em 1946, tornou-se professora de física no Hunter College. Após isso, o Veterans Admnistration Hospital convidou-a para desenvolver o Radioisotope Service, um serviço visando a aplicação médica de radioisotopos radioativos, com um grupo de físicos.

Rosalyn Sussman Yalow

Fonte: United States Information Agency; Licença: Domínio Público

Solomon A. Berson foi seu parceiro por 22 anos nesse trabalho. Eles estudaram o uso de radioisótopos para medir o volume de sangue de modo preciso, subsequentemente testaram seu método com a insulina. A técnica feita pelos cientistas consistia na anexação de iodo radioativo às moléculas do hormônio insulina, com a subsequente inoculação em voluntários. Eles monitoravam, por meio de exames de sangue, a rapidez com que o hormônio estava sendo metabolizado e retirado da corrente sanguínea. Isso possibilitou uma grandiosa descoberta: pacientes com diabetes tipo 2 tornavam-se resistentes à insulina pela produção de anticorpos que faziam com que fossem excretadas.

O radioimunoensaio possibilitou a pesquisa médica, não só no tratamento da diabetes, como para várias outras doenças e aplicações médicas. A técnica, que utiliza moléculas marcadas radioativamente para mensurar os anticorpos produzidos pelo sistema imunológico, revolucionou os níveis de detecção de substâncias - podendo ser feitas agora em escala de bilionésimo de grama. Yallow levantou, em seu discurso do Nobel, mais de 100 substâncias biológicas, além dos hormônios, capazes de serem medidas pelo ensaio. Sabe-se atualmente que ele pode medir milhares de substâncias, atuando em diversas condições com muita precisão - como rastreio do vírus de hepatite C ou medição de dosagem de antiobiótico.

Infelizmente, Berson veio a falecer antes de ganhar o prêmio Nobel com Yallow. No discurso da premiação, ela ressaltou a injustiça enfrentada por mulheres ao prosperarem academicamente e profissionalmente, devido à discriminação de gênero. Segundo Yallow, cabiam às mulheres um papel quase exclusivo de provedora do lar e, quando conseguiam trilhar seus caminhos profissionais, deveriam provar constantemente que eram merecedoras de estarem ali, sendo muito mais pressionadas do que os colegas homens. Rosalyn Yallow não apenas superou os obstáculos de sua época como buscou que mais mulheres pudessem alcançar vitórias como ela!

Porque Ganhou o Nobel?

Rosalyn Sussman Yalow foi laureada com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1977 pelo desenvolvimento da técnica de radioimunoensaio (RIA), um método que revolucionou a pesquisa médica. Outros dois cientistas foram laureados em 1977, Roger Guillemin e Andrzej Schally, por estudos de hormônios produzidos pelo hipotálamo.

Por Alana D’Ornelas, Jessica Jamal e Clarice D. B. Amaral


Infográfico: Alana D’Ornelas; @mulheresnasciencias.ufpr

Para saber mais

No site do Nobel, Rosalyn Yalow conta um pouco da sua trajetória pessoal e profissional, e suas percepções da vida. Vale a pena conferir!

Este vídeo do Youtube conta um pouco mais da história da cientista do dia. 

O livro “Doctors and Discoveries. Lives That Created Today’s Medicine” escrito por John Galbraith Simmons conta a história de mais de 80 pessoas que contribuíram para a evolução da ciência médica. E Rosalyn Yalow faz parte desse time!

 

Referências

MINELLA, L. S. No trono da ciência: mulheres no Nobel da Fisiologia ou Medicina (1947-1988).Cadernos de Pesquisa, v. 47, n. 163, p. 70-93, jan/mar 2017. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/cp/v47n163/1980-5314-cp-47-163-00070.pdf>. Acesso em 28 out. 2020.

Rosalyn Yalow. Biographical. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1977/yalow/biographical/ Acesso em: 28 out. 2020.

Rosalyn Yalow. Nobel Prize in Physiology or Medicine 1977. The Nobel Prize. Disponível em: https://www.nobelprize.org/womenwhochangedscience/stories/rosalyn-yalow Acesso em: 28 out. 2020.

Meet Nobel Prize winner Rosalyn Sussman Yalow, who let doctors see into your blood. Massive Science. Disponível em: https://massivesci.com/articles/science-hero-rosalyn-sussman-yalow-facts-insulin-diabetes-blood-radioimmunoassay/ Acesso em: 28 out. 2020.

 

 

 

 


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