Rita Levi-Montalcini, Nobel de Fisiologia ou Medicina, 1986

 

Rita, a “Dama das Células”

Rita Levi-Montalcini, judia, nasceu em Turim, na Itália, em 22 de abril de 1909 e faleceu aos 103 anos, em dezembro de 2012. Rita, filha de um pai engenheiro elétrico e de uma mãe artista/pintora, sempre se sentiu amada e apoiada pela sua mãe em relação a seguir carreia acadêmica, mesmo seu pai sempre a desencorajando. É interessante pensar sobre a época em que Rita vivenciou a Educação Superior, pois para as mulheres não era algo comum, uma vez que se acreditava que tal dedicação poderia atrapalhar e até distrair as mulheres de seu trabalho doméstico.

Em 1929, sua querida governanta morreu de câncer gástrico diagnosticado, implantando-se nas profundezas da mente de Rita a ideia de comprometer a sua vida para a profissão médica. Foi por essa passagem marcante que Rita, na cidade de Turim, cursou a faculdade de medicina e obteve, em 1936, o doutorado de medicina e cirurgia. Antes disso, em 1932, Rita, quando recebeu o dinheiro da herança de seus pais, formou uma fundação com o propósito de as crianças serem mestres do seu próprio futuro.

Da graduação à guerra

Rita foi e continua sendo um exemplo de muita resiliência. Antes de entrar na faculdade, o pai de Rita determinou que ela e a sua irmã gêmea deveriam ser matriculadas em uma escola para mulheres, cujo objetivo era aprender a ser mãe e dona de casa. Não obstante, durante o seu curso de medicina, em sua classe predominantemente masculina (294 homens de um total de 300 alunos), Rita ouvia inúmeros comentários infrutíferos. Todavia, foi neste período que Rita conheceu Giuseppe Levi, uma pessoa impactante, que vira a se tornar o seu mentor e, posteriormente, após a conclusão de seu curso, colega de trabalho. Porém, em 14 de julho de 1938, Mussolini – sim, aquele mesmo da segunda grande guerra – declara “Manifesto della Razza” (Manifesto da Raça), onde há leis que proibiam carreiras acadêmicas e profissionais para italianos não arianos, o que fez com que Rita, judia, deixasse o seu trabalho acadêmico e se mudasse para outro país.

Figura: Menifesto della Razza

Publicado com o título “Fascismo e os Problemas de Raça” no "Il Giornale d'Italia" de 14 de julho de 1938, o manifesto dos cientistas racistas ou Manifesto da Raça, antecipou em poucas semanas a promulgação da legislação racial fascista (outubro de 1938). O manifesto foi assinado por alguns dos principais cientistas italianos, tornando-se a base ideológica e pseudocientífica da política racista da Itália fascista. Dentre as linhas do manifesto, podia-se ler: “os judeus não pertencem à raça italiana. [...] Os judeus representam a única população que nunca foi assimilada pela Itália, porque é composta por elementos raciais não europeus, absolutamente diferentes dos elementos que deram origem aos italianos”.
A partir da grande perseguição racial e política aos judeus, Rita, de forma forçada, se afastou da Itália. Durante a guerra, na Bélgica, Rita continuo com suas atividades acadêmicas e publicou um artigo demonstrando “[...] a relação anatômica e funcional entre centros neurais e caminhos, em um embrião de pintinho”. Alguns meses depois, Rita retornou à Itália com a ajuda de colegas, onde preparou um laboratório em sua própria casa, desde a cozinha até o quarto. Rita atuou na Segunda Guerra Mundial, onde exerceu a sua profissão em favor das pessoas pobres e doentes.

O trabalho e a felicidade de Rita

 Figura: Grupo de 1949

Os 30 anos mais felizes da vida de Rita se passaram dentro da Universidade de Washington. Haburger, considerado um dos pais da neurociência, leu alguns dos trabalhos publicados por Rita durante a guerra e convidou ela e os seus colegas de trabalho para o seu laboratório em St. Louis. Basicamente, Rita estava trabalhando em padrões de crescimento e diferenciação de células nervosas, e considerou que esses processos tinham de ser mediados por algum tipo de agente indutor.
Foi por meio do Dr. Haburger que Rita conheceu o Dr. Stanley Cohen, também interessado em biologia celular e em desenvolvimento embriológico. Pouco antes desse período, Rita descubriu o Fator de Crescimento Neural (NGF) em tumores encontrados em camundongos. Para provar a existência do Fator de Crescimento, em 1952, Rita transplantou células tumorais em embriões de pintos e observou que estes induziram o desenvolvimento do crescimento do nervo simpático. Essa descoberta, que hoje é conhecida como NGF, proporcionou uma compreensão mais profunda de problemas médicos, tais como deformidades, demência senil, cicatrização retardada de feridas e doenças tumorais.

Nas palavras de Rita, o dia 10 de dezembro de 1986 marcou o fim da intolerância do Fator de Crescimento Nervoso (NGF), sendo reconhecido oficialmente pela comunidade científica. Rita iniciou mais uma fundação, está com o objetivo de ajudar as mulheres africanas a frequentarem a universidade. Apesar de a sua audição e a sua visão terem sido prejudicadas com a idade, Rita trabalhou até os seus 100 anos. Em uma entrevista ela disse: “Aos 100 anos, tenho uma mente que é superior - graças à experiência - do que quando tinha aos 20 anos

Por Rene Miguel e Everton Bedin


Quer saber mais? Não deixe de conferir em:

Revista Italiana: https://www.italymagazine.com/featured-story/italys-treasures-rita-levi-montalcini-1909-2012
Site, Prêmio Nobel: https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1986/levi-montalcini/biographical/

Referência:

PALACIOS SANCHEZ, Leonardo; PALACIOS ESPINOSA, Ximena; BOTERO MENESES, Juan Sebastián. RITA LEVI-MONTALCINI, 30 Anos do Prêmio Nobel. rev.fac.med,  Bogotá ,  v. 24, n. 1, p. 5-10,  Jan.  2016. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0121-52562016000100001&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 01 dez. 2020.

Rita Levi-Montalcini - Palestra Nobel. NobelPrize.org. Nobel Media AB 2020. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1986/levi-montalcini/lecture/. Acesso em: 01 dez. 2020.

Lutz, D. Obituary: Nobel Laureate Rita Levi-Montalcini. The source, Washington University in St. Louis. Disponível em: https://source.wustl.edu/2013/01/obituary-nobel-laureate-rita-levimontalcini/. Acesso em: 01 dez. 2020.

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