Christiane Nüsslein-Volhard, Nobel de Medicina ou Fisiologia, 1995

A cientista que revolucionou o entendimento de processos embrionários.



História de vida

Christiane Nüsslein-Volhard nasceu na cidade alemã de Magdeburg, em 20 de outubro de 1942. Christiane cresceu em uma família culta, envolvida com a ciência e arte. Seu avô paterno, Franz Volhard, era professor de medicina e sua avó materna, Lies Haas-Möllmann, era pintora impressionista. Seu pai, Rolf Volhard, foi um arquiteto e sua mãe, Brigitte Has Volhard, professora. Christiane, seus quatro irmãos e seus pais moraram em Frankfurt, na Alemanha, durante boa parte da vida. O senhor e a senhora Volhard se empenharam em criar seus filhos com muita liberdade e incentivo em diversas áreas, como nos estudos e nas artes. Eles próprios faziam brinquedos e livros para as crianças, devido às dificuldades após a Segunda Guerra. Instigada pelo ambiente familiar estimulante, desde cedo Christiane nutria um interesse muito intenso pelo mundo e pelas descobertas.

Desde criança mostrava predileção por cursar Biologia, instigada por sua enorme curiosidade pelas plantas e pelos animais. No ensino médio, Nüsslein-Volhard dedicava-se intensamente às matérias de seu interesse, o que a fazia negligenciar as matérias pelas quais tinha menor entusiasmo. Era notável pelos professores seu talento para o pensamento crítico científico. Chegou a realizar uma palestra, “Sobre a linguagem dos animais”, após seus estudos de materiais produzidos por biólogos alemães a respeito do comportamento animal.

A aspirante à cientista chegou a Universidade de Frankfurt. Cursou cadeiras de Biologia, Matemática, Mecânica teórica e Química. Quando soube que na cidade de Tübingen, na Alemanha, passariam a ofertar um novo currículo de Bioquímica, Christiane mudou-se para lá, deixando família e amigos. Aprendeu, dentre outros assuntos, sobre físico-química, termodinâmica, microbiologia e genética. Além disso, assistiu a palestras de importantes cientistas, como Gerhard Schramm, Heinz Schaller e Alfred Gierer. Em 1969, ela conquistou seu Diploma em Bioquímica.

Christiane Nusslein-Volhard em um palestra.

Fonte: Okinawa Institute of Science and Technology; CC BY 2.0

Logo após sua conquista, Nüsslein-Volhard iniciou treinamento de laboratório com o químico Heinz Schaller. Ela desenvolveu uma técnica, juntamente com o estudante Bertold Heyden, para purificação em larga escala de polimerase de RNA, que resultou em uma carta publicada na revista Nature.

A cientista passou a estudar sobre a biologia do desenvolvimento, com materiais de Alfred Kühn. Uma de suas inspirações foi Friedrich Bonhoeffer, que estudou sobre a replicação do DNA em E. coli e identificou o gene codificante da enzima DNA polimerase replicante e vários outros novos genes. Esse fato a despertou para o poder da genética na análise de processos complexos. Christiane ficou instigada a buscar por um organismo no qual fosse adequado o estudo de problemas de desenvolvimento com aplicação da genética e chegou na Drosophila. Essa espécie de mosca da ordem Diptera é utilizada em experimentos científicos, muitas vezes como mutantes, assim como as bicaudais.

 

A pesquisa com as drosófilas

A cientista desenvolveu como projeto de pós-doutorado, o estudo de mutações que interferem nas informações da célula-ovo (zigoto). O objetivo seria encontrar fenótipos mutantes, possivelmente indicando a ausência de atividade oriunda de um gene deficiente no embrião. Havia um tipo de mutante conhecido na época, o bicaudal, descrito por Alice Bull em 1966. Em 1975, Christiane foi trabalhar juntamente com Walter Gehring, em Basel, com modelos bicaudais. Fez alguns trabalhos e os apresentou em eventos científicos. Foi chamada para dirigir o Laboratório Europeu de Biologia Molecular em Heidelberg conjuntamente ao cientista Eric Wieschaus, de 1978 a 1980. Trabalharam na análise de Krüppel, um mutante de segmentação que foi publicado por Alfred Kühn, originalmente descrito por Hans Gloor em 1950. Este, por sinal, ainda mantinha o estoque desses mutantes em Genebra e compartilhou uma parcela do estoque com os cientistas. A coleção de mutantes que afetam segmentos foi aumentando, bem como o rastreamento de mutantes embrionários. Fizeram triagem de 4200 mutantes zigóticos no segundo cromossomo. Os cientistas testaram também fertilidade de 1000 linhagens não letais de moscas homozigotas e a fertilidade de suas filhas para verificar mutantes sem netos. Chegaram a mutantes maternos valiosos: torso, gurken e tudor. Os colegas de trabalho publicaram as suas principais conclusões sobre os genes de segmentação em um artigo na Revista Nature, em 1980.

 

Christiane Nusslein-Volhard recebendo um prêmio.

Fonte: CC BY-SA 2.0 FR

Após um período de trabalho, Eric Wieschaus foi trabalhar em Princeton, nos Estados Unidos. Christiane aceitou uma oferta de trabalho para um cargo júnior no Laboratório Friedrich-Miescher da Sociedade Max-Planck em Tübingen, em 1981. Lá, fazia parte de uma grande equipe, também envolvida com embriologia de moscas. Trabalhou com a triagem para mutantes maternos no terceiro cromossomo, identificação de genes do grupo dorsal, mutantes de segmentação, como mutantes maternos envolvidos na determinação do eixo. Publicou artigos sobre telas zigóticas em 1984. Trabalhou também com biologia molecular de RNA. Nüsslein-Volhard teve interesse despertado por modelos zebra-fish, por fornecerem um sistema para a análise genética do desenvolvimento humano. Começou os estudos dos genes controladores do desenvolvimento desses animais, em 1990. Suas pesquisas contribuíram para aumentar o entendimento sobre a regulação fisiológica humana e questões moleculares envolvidas no desenvolvimento humano.

Por que ganhou o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia em 1995?

Christiane Nüsslein-Volhard foi laureada, juntamente com Eric Wieschaus e Edward Lewis, em decorrência de sua pesquisa que demonstrou como os genes regulam o desenvolvimento inicial de embriões de moscas Drosófilas - as famosas moscas da fruta.

Christiane foi a sexta mulher a ser laureada no prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia. Esse fato evidencia o baixíssimo número de mulheres premiadas nesta área em mais de 90 anos de existência da premiação. Nüsslein-Volhard afirma que o trabalho como cientista entre as décadas de 70 e 80 era notavelmente difícil pois as mulheres eram minoria e tratadas de modo diferente dos homens. Embora Christiane reconheça que os tempos atuais estejam melhores, em termos de representatividade feminina na carreira científica, ainda há inúmeros desafios enfrentados pelas cientistas. Diante disso, a laureada criou a Fundação CNV, que visa apoiar mulheres no início de suas carreiras nas ciências naturais experimentais e que, além disso, precisam conciliar a carreira com a maternidade. É oferecida uma bolsa que permita a continuidade das pesquisas a mulheres promissoras nas ciências. Esse foi um meio encontrado por Nüsslein-Volhard para tentar aumentar o percentual de mulheres nas ciências. Que nas próximas décadas, mulheres reconhecidas e laureadas pelos seus feitos não sejam a exceção, e sim a regra!

Por Alana D’Ornelas, Jéssica Jamal e Clarice D. B. Amaral.


Para conhecer mais

A Fundação CNV foi criada por Christiane Nüsslein-Volhard a fim de dar suporte à nova geração de mulheres nas ciências. Neste site, você pode conferir mais informações a respeito.

O artigo científico “Qual foi o impacto do feminismo na ciência?”, feito por Evelyn Fox Keller, é uma boa pedida para entender mais sobre mulheres nas ciências. Christiane Nüsslein-Volhard é citada como um expoente na área da biologia do desenvolvimento.

Nesta entrevista, Christiane Nüsslein-Volhard e Eric Wieschaus relembram a parceria que tiveram nos anos de laboratório. Segundo eles, o trabalho na área dos genes que atuam no desenvolvimento era desafiador visto que ainda muito pouco se sabia a respeito. Entretanto, obtiveram grande êxito em suas pesquisas!

O The New York Times publicou essa matéria sobre Christiane Volhard. Vale a pena conferir para conhecer mais sobre a cientista!

Referências

Christiane Nüsslein-Volhard. Biographical. The Nobel Prize. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1995/nusslein-volhard/biographical/>. Acesso em 27 dez 2020.

Christiane Nüsslein-Volhard. Britannica. Disponível em: <https://www.britannica.com/biography/Christiane-Nusslein-Volhard> Acesso em 29 dez 2020.

Christiane Nüsslein-Volhard: a cientista que ajudou a decifrar o embrião. Bayer. Disponível em: <https://www.canwelivebetter.bayer.com.br/saude/christiane-nusslein-volhard-cientista-que-ajudou-decifrar-o-embriao> Acesso em 15 jan 2020.

KELLER, E. F. Qual foi o impacto do feminismo na ciência? Cadernos Pagu, n. 27, p. 13-34, jul/dez 2006. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332006000200003> Acesso em 29 dez 2020.

Professor Christiane Nüsslein-Volhard. What is biotechnology? Disponível em: <https://www.whatisbiotechnology.org/index.php/people/summary/Nusslein-Volhard>. Acesso em 29 dez 2020.

 

 


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