Elfriede Jelinek, Nobel de Literatura, 2004

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Tudo bem com vocês?
Hoje o nosso diálogo é sobre uma mulher maravilhosa que iniciou as suas atividades na música, mas encontrou a saída de muitos problemas na escrita. Nossa protagonista recebeu o Nobel de Literatura. Curioso isso, não? Então, se aconchegue na cadeira e siga conosco nessa história eletrizante.


 
Nobel Lecture by Elfriede Jelinek

A nossa protagonista é a escritora Elfriede Jelinek, nascida em 20 de outubro de 1946 em Mürzzuschlag, na Áustria. A sua mãe, de origem burguesa, era diretora de pessoal e perdeu toda a sua fortuna na primeira guerra, e seu pai, de origem judaica da classe trabalhadora, era um químico. É importante pensar no que acontecia nessa época em sua terra natal, pois a Áustria ainda lutava contra os efeitos colaterais da Segunda Guerra Mundial e da anexação do país em 1938, pela Alemanha nazista. Como o pai de Jelinek era químico, conseguiu evitar a perseguição nazista ao trabalhar com pesquisas relacionadas à guerra na indústria.

Jelinek cresceu em Viena, capital da Áustria. Após realizar os seus estudos no jardim de infância, nossa protagonista frequentou a escola primária do mosteiro católico Notre Dame de Sion, mudando-se, na sequência, para a escola secundária pública. Além disso, Jelinek frequentou, desde a sua infância, aulas de balé e música, que incluíam aulas de piano na escola distrital de música, sendo inseridos, mais tarde, instrumentos como: violino, viola, violão e flauta doce, por iniciativa da sua mãe, que planejou uma carreira de "prodígio" musical para Jelinek.

Mesmo antes de se formar no Ensino Médio, com 13 anos de idade, Jelinek foi a mais jovem aluna admitida no Conservatório de Viena, onde, além de estudar piano, órgão, flauta doce e composição, lidava com seu pai psicologicamente doente enquanto tentava suprir as expectativas de sua mãe. A rotina diária de Jelinek era devidamente cronometrada, o que dificilmente permitia interrupções, e fez com que a mesma começasse a demonstrar sinais de ansiedade ainda no Ensino Médio. No verão de 1964, após concluir com sucesso o Ensino Médio, Jelinek sofreu um grave colapso mental.

No outono seguinte, Jelinek começou a estudar teatro e história da arte na Universidade de Viena, mas teve que parar depois de seis semestres devido a doença, já que mal conseguia sair de casa. Jelinek, que já havia escrito seus primeiros poemas ainda no colégio como meio de lidar com a ansiedade, voltou-se para a escrita, para a poesia, especificamente. Foi então que a sua mãe descobriu a Sociedade Austríaca de Literatura como meio de publicação para ela. Seu vice-chefe, Otto Breicha, co-editor da revista literária "protocolos", tomou consciência do talento de Jelinek e a convidou para participar das Semanas de Cultura Juvenil de Innsbruck, para as quais viajou com a mãe na primavera de 1967. No mesmo ano, seu volume de poesia Lisas Schatten foi publicado em Munique, e os grandes nomes da cena literária local tomaram conhecimento.


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A partir de 1968, a saúde mental de Jelinek piorou tanto que ela não conseguiu sair de casa ao longo do anos, mesmo completando o seu primeiro romance: bukolit, que foi publicado em 1979, 10 anos depois da morte de seu pai em uma instituição mental.

Em 1971, Jelinek completou os seus estudos de órgão no Conservatório de Viena. Entre os anos de1972 e de 1973, Jelinek viveu com o escritor Gert Loschütz em Berlim e, posteriormente, em Roma. Em 1974, já em Viena, Jelinek, além de se juntar ao KPÖ (Partido Comunista da Áustria), do qual foi membro até 1991, se casou com Gottfried Hüngsberg, que trabalhava como cientista da computação em Munique. Desde o seu casamento, Jelinek viveu alternadamente em Viena e Munique. Em 1975, o romance The Lovers apareceu, com o qual ela fez a sua descoberta. De 1977 a 1987, Jelinek trabalhou para a revista feminista Die Schwarze Botin (O mensageiro negro, tradução nossa) cuja análise social era radical; essa é frequentemente atribuída a correntes anarquistas ou anarco-feministas na área de língua alemã. Em 1979, o primeiro texto de teatro de Jelinek: O que aconteceu depois que Nora deixou o marido, estreou em Graz, capital da província de Styria, no sul da Áustria.

Ao ler os trabalhos de Jelinek, é importante avaliar que estes se encontram permeados por suas posições políticas, afiliada ao Partido Comunista e a sua posição como feminista. Então, em suas primeiras obras, ela critica o capitalismo e a sociedade de consumo, bem como a sociedade patriarcal em alguns de seus romances. Desde o final da década de 1980, ela ataca o passado fascista e o presente antissemita na Áustria e na Alemanha. Elfriede Jelinek é a primeira austríaca a ganhar o Nobel de Literatura, conseguindo projeção mundial em 2001, graças ao filme “A Professora de Piano” – debate polêmico sobre as forças complexas da tirania e o ascetismo, temas assíduos na literatura de um país que, no pós-guerra, nutriu uma cultura conservadora entre as elites. A história da perturbada pianista (Isabelle Hupert) que se envolve com um aluno, que Jelinek narra no romance "A Pianista" (1988), é autobiográfica.

A Pianista, de Elfriede Jelinek

Jelinek, novelista e criadora de peças de teatro austríaco, criticou o país onde nasceu. A escritora, em 1995, por meio do texto Die Kinder der Toten ("Os filhos dos mortos", tradução nossa)  pinta a Áustria como um reino dos mortos. A sua atitude parece condená-la ao ostracismo em sua terra natal, até que a vizinha Alemanha despontou como "descobridora" de seu talento. 

Jelinek  foi agraciada com o Nobel devido ao "fluxo musical de vozes e vozes dissidentes" em suas obras, "[...] que, com uma paixão linguística única, revela o absurdo e o poder irresistível dos clichês sociais". Um tema central no trabalho de Jelinek é a sexualidade feminina. Jelinek não foi receber o Prêmio Nobel pessoalmente na capital sueca, pois sofre de agorafobia e de fobia social, condições paranóicas que se desenvolveram quando ela decidiu escrever seriamente, mas uma mensagem de vídeo (não deixe de conferir no Para Saber Mais) foi apresentada na cerimônia. Algumas pessoas a criticaram por isso, outras apreciaram como Jelinek revelou que ela sofre de fobia social.

Por Rene Miguel e Everton Bedin


Para saber mais:

1. Alguns escritos selecionados de seus romances: https://www.notablebiographies.com/newsmakers2/2005-Fo-La/Jelinek-Elfriede.html
2. Biografia Elfriede Jelinek: https://www.fembio.org/biographie.php/frau/biographie/elfriede-jelinek/
Centro De Pesquisa Elfriede Jelinek: https://jelinetz.com/?title=Hauptseite
3. Retrato do Prêmio Nobel de Literatura de 2004: https://www.nobelprize.org/mediaplayer/?id=591&view=1

Referências
1. Der Spiegel: Imprensa Feminina: Lute por Emma. De 29 de novembro de 1976, edição 49/1976
Elfriede Jelinek. LITERARY COLLOQUIUM BERLIN, 2015. Disponível em: https://www.literaturport.de/Elfriede.Jelinek/. Acesso em: 14 fev. 2021.
2. Elfriede Jelinek.  Wiki de História de Viena. Disponível em: https://www.geschichtewiki.wien.gv.at/index.php?title=Elfriede_Jelinek&oldid=446361. Acesso em: 14 fev. 2021.
3. HONEGGER, Gitta (2006). "How to Get the Nobel Prize Without Really Trying". Teatro. 36 (2): 5–19. Disponível em: 10.1215/01610775-36-2-4. Acesso em: 13 fev. 2021.

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