Wangari Maathai, Nobel da Paz, 2004

A primeira mulher africana a ser laureada com Nobel da Paz

A história que conheceremos hoje é muito especial. Tem como protagonista uma mulher negra, ativista de causas sociais e ambientais. Uma verdadeira agente de mudanças de seu meio. Wangari Maathai foi a primeira mulher africana a ganhar um Prêmio Nobel. Levando em consideração que a primeira entrega da premiação foi em 1901, foram mais de 100 anos até a ocorrência desse fato.

Mulheres negras sofrem por dupla discriminação: de gênero e de raça. Elas possuem menor representatividade no âmbito profissional, político e econômico devido ao contexto de desigualdades provocadas pelo patriarcalismo e racismo. Há muito a ser mudado no cenário atual, e a luta é para que mais mulheres como Wangari Maathai e tantas outras possam ser reconhecidas pelos seus brilhantes feitos.

História de vida

Wangari Maathai nasceu no Quênia em 1º de abril de 1940. Mais especificamente no distrito de Nyeri, uma antiga colônia britânica. Ela ingressou na escola aos 8 anos de idade, no internato da Missão Católica Mathari. Maathai foi alfabetizada em inglês, possibilitando o aproveitamento de oportunidades, como a entrada no Colégio Loreto, uma instituição preparatória católica de mulheres no Quênia, na cidade de Limuru. Nesta época, a África Oriental passava por um processo de fim do colonialismo. Para dar mais oportunidades à população local, o senador norte americano John F. Kennedy financiou um programa de bolsas para que 300 jovens estudantes africanos pudessem estudar nos Estados Unidos. Wangari Maathai conseguiu uma vaga neste programa, e aproveitou as oportunidades educacionais de qualidade que obteve durante sua vida, diferentemente de muitas outras meninas de sua época que não tiveram o mesmo acesso. 

Wangari Maathai fez graduação em Ciências Biológicas pelo Mount St. Scholastica College em Atchison, Kansas. Graduou-se em 1964 com especializações em alemão e química. Na sequência, iniciou um mestrado na Universidade de Pittsburg, garantindo seu título de Mestre em Ciências em 1966. Nesse momento, Mathaai teve seu primeiro contato com um evento sobre meio ambiente. Ela iniciou os estudos de doutorado na Alemanha, obtendo seu título em 1971. Wangari Maathai foi a primeira mulher africana a ter um doutorado. Ela retornou à África, e foi a primeira mulher a ser presidente do Departamento de Anatomia Veterinária, na Universidade de Nairobi, em 1976. Também foi a primeira a conquistar o cargo de professora do local, em 1977. Como podemos constatar até esse momento do texto, Wangari foi a primeira em muitas situações!

Retrato da ambientalista Wangari Maathai. 
Fonte: Oregon State University; CC BY-SA 2.0.

No Quênia, participou ativamente do Conselho Nacional de Mulheres, entre 1976 e 1987. Inclusive de 1981 a 1987 presidiu a organização. Ali teve maior contato com os movimentos sociais, como feministas e ambientalistas, e sua percepção ativista foi ampliada.
Em 1977, fundou o Movimento Cinturão Verde, uma organização de base ampla que apoiava a plantação de árvores com o intuito de melhorar a qualidade de vida preservando o meio ambiente. Em sua infância, Wangari viu muitas florestas serem derrubadas para formação de lavouras, levando a diminuição da biodiversidade de seu país. Ela queria mudar essa situação, primeiramente reeducando mulheres no aspecto ambiental. O Movimento Cinturão Verde ajudou no plantio de mais de 20 milhões de árvores em locais como fazendas, escolas e igrejas. Com essa organização, a ambientalista queria mostrar que aumentar o plantio de árvores traria mudanças benéficas para a sociedade como um todo, preservando a biodiversidade africana, reduzindo a pobreza por iniciativas sociais e reduzindo o desemprego. O protagonismo feminino foi estimulado para promover as mulheres da sociedade africana. Ele configurou uma rede pan-africana de cinturões verdes, ampliando a iniciativa a outros países africanos. Tanzânia, Uganda, Malaui, Etiópia são alguns dos exemplos de países que abraçaram com sucesso a organização. O Movimento apresentava métodos de plantio, podendo ser seguidos ou não pelas demais iniciativas. Alguns lugares preferiam estabelecer suas próprias técnicas para o feito. Esse movimento foi responsável por levar o nome de Wangari Maathai ao mundo.
 No ano de 1998, a ambientalista foi líder global como co-presidente na Jubilee 2000 Africa Campaign, a qual buscava  cancelar as dívidas estratosféricas dos países africanos até o ano 2000. Integrou o Conselho de Honra do World Future Council. Ela também fez campanhas contra grilagem de terras e sua luta e defesa por causas sociais e ambientais levaram-na a ser presa algumas vezes. Uma de suas detenções foi devido a uma construção em um parque em Nairobi, que ela tentou impedir. Maathai também teve atuação política, sendo eleita parlamentar no Quênia em 2002. Mwai Kibaki, o terceiro presidente eleito no Quênia, a nomeou como ministra do Ambiente, Recursos Naturais e Vida Selvagem. Em 2003, ela fundou o partido verde no Quênia.

Wangari Maathai em conferência.
Fonte: United Nations Geneva; CC BY-NC-ND 2.0.

Wangari Maathai foi ambientalista, ativista e educadora. Ela faleceu em 25 de setembro de 2011, em decorrência de um câncer. Sua notoriedade, entretanto, ainda vive. No dia em que morreu, havia mais de 47 milhões de árvores plantadas graças ao seu programa. Ela é reconhecida e lembrada até hoje por sua luta em defesa da preservação do meio ambiente, pela democracia e pelos direitos humanos. Maathai participou de eventos da Organização das Nações Unidas (ONU), representou as mulheres na Cúpula da Terra e também fez parte nas comissões de Governança Global e do Futuro. Wangari Maathai recebeu inúmeras premiações por suas ações, sobretudo pelo Movimento Cinturão Verde. O principal deles foi o Prêmio Nobel da Paz em 2004. Como professora, foi listada no Global 500 Hall of Fame do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e escolhida como uma das 100 heroínas mundiais. Recebeu doutorado honorário de várias instituições renomadas como William’s College, MA (EUA) e Yale University.

Prêmio Nobel da Paz, 2004

Wangari Maathai foi laureada com o Prêmio Nobel da Paz em 2004, por “sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, democracia e paz”. Foi inspiração na luta pelos direitos democráticos e encorajou mulheres a melhorarem suas vidas.

Por Alana D’Ornelas, Jéssica Jamal e Clarice D. B. Amaral.


Para conhecer mais

A bióloga ligada ao movimento ambientalista escreveu livros ao longo da vida. Em Inabalável, Wangari leva o leitor a um passeio na África colonizada até os novos ares da globalização do século 21. No livro “Movimento Cinturão Verde: Compartilhando a Abordagem e a Experiência” (tradução livre), Maathai conta a história do projeto, as filosofias e os objetivos que ela esperava obter. A história suscita ideias a respeito de um futuro promissor para a África e o mundo.

O site do Movimento Cinturão Verde disponibiliza todas as informações sobre o movimento, como a história, os eventos relacionados e as notícias sobre ele. É possível também, encontrar a biografia de sua fundadora, Wangari Maathai.

O documentário 'Tomando Raízes: A Visão de Wangari Maathai' de Lisa Merton e Alan Dater conta a história inspiradora de Wangari Maathai e o seu sonho de reflorestamento do seu país. O documentário foi muito premiado e elogiado.

Referências
PRESBEY, G. M. Women's empowerment: the insights of Wangari Maathai. Journal of Global Ethics, v.9, p. 277-292, 2013.

Wangari Maathai. Nobel Prize. Disponível em: 
<https://www.nobelprize.org/prizes/peace/2004/maathai/facts/>. Acesso em: 01 fev 2020.
Wangari Maathai, a primeira africana a ganhar um Prêmio Nobel. AH História. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/wangari-maathai-a-primeira-africana-ganhar-um-premio-nobel.phtml>. Acesso em: 01 fev 2020.

Wangari Maathai, a queniana que semeou árvores e ideais. El Pais. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/26/politica/1519672164_945082.html>. Acesso em: 01 fev 2020.

Wangari Maathai. Nobel Prize. Disponível em:  <https://www.nobelprize.org/prizes/peace/2004/maathai/facts/> .   Acesso em: 01 fev 2020.

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