Carol W. Greider, Nobel de Fisiologia ou Medicina, 2009

 A mulher mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina

A contribuição de Carol W. Greiger para a Ciência tem efeito direto para a saúde. Seus estudos sobre telômeros levaram a tratamentos inéditos nas áreas de terapias anticancerígenas, antienvelhecimento e em doenças relacionadas ao coração.


História de vida

Carol W. Greider nasceu em San Diego no ano de 1961, nos Estados Unidos. Era filha de Kenneth e Jean Foley Greider, ambos acadêmicos. O seu pai era físico e sua mãe doutora em Botânica.

Os desafios na vida de Greider começaram a surgir bem cedo. Em 1967, quando tinha apenas seis anos, uma tragédia acometeu a família levando ao falecimento de sua mãe.

Greider sofria de dislexia, e embora o distúrbio de aprendizagem tornasse a escola um lugar difícil para ela, chegando a afirmar que durante sua infância sentia-se “estúpida”, ela desenvolveu uma capacidade de memorização que a ajudou muito nas aulas de química e biologia. No ensino fundamental, ela estava mostrando uma aptidão distinta para as ciências e, compreendeu a escola como uma responsabilidade que não poderia deixar em segundo plano, o que de certa forma a ensinou a ser independente e ter iniciativa, mantendo certo fascínio pelo aprendizado.

Em 1983, formou-se como bióloga pela Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, mas, seu aprofundamento na temática dos cromossomos foi possível quando, ainda durante a graduação, foi estudar na Alemanha.

Enquanto procurava por uma universidade para fazer a pós-graduação, conheceu e ficou encantada pelos estudos da Dra. Elizabeth Blackburn sobre cromossomos e telômeros, direcionando seu interesse para a Universidade da Califórnia em Berkeley, onde Blackburn lecionava.

Retrato de Carol W. Greider.
Fonte: Johns Hopkins University School of Medicine; CC BY-SA 4.0.

Decidida pela área da biologia molecular, recebeu seu PhD em 1987 pela Universidade da Califórnia. Lá foi supervisionada por Elizabeth Blackburn, e se lançou na busca pela, até então misteriosa, enzima reguladora do telômero. Greider tentou um método após o outro para purificar e observar as proteínas encontradas nos telômeros, tentando descobrir quais, e se alguma, desempenhavam a atividade enzimática.

Os genes de um organismo são armazenados dentro de moléculas de DNA, que são encontradas nos cromossomos dentro do núcleo de suas células. Quando ocorre uma divisão celular, é importante que seus cromossomos sejam cópias idênticas e que segmentos não sejam danificados. Em cada extremidade de um cromossomo, existe uma espécie de "capa" ou telômero, como é conhecido, que o protege.

Contudo, Greiger juntamente com Elizabeth Blackburn, percebeu que os telômeros têm um DNA específico que impede a quebra dos cromossomos. Com isso, identificaram a presença de uma enzima chamada telomerase. Só na primavera do ano seguinte ela descartou qualquer outra explicação para o que estava vendo no laboratório e confirmou que a telomerase era de fato a enzima que mantinha o comprimento dos telômeros, o que possibilitou entender que a telomerase adiciona DNA aos telômeros e, assim, mantém o funcionamento dos cromossomos.

Anos mais tarde, Greider mudou-se para Nova York a fim de conduzir suas pesquisas no Cold Spring Harbor Laboratory. Lá, ela elucidou ainda mais as funções celulares e deu continuidade às suas pesquisas sobre telomerase, caracterizando elementos genéticos da enzima.
Em 1990, Greider foi nomeada pesquisadora assistente neste laboratório, lugar em que ascendeu na carreira científica ao longo dos anos.

Anos mais tarde, assumiu a posição de professora associada de biologia molecular e genética na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins em Baltimore,  e em 1999, tornou-se professora titular, e professora de oncologia no ano de 2000 nesta mesma universidade.

Entrevista com as laureadas e laureado do Nobel de Fisiologia e Medicina de 2009. Da esquerda para a direita: Elizabeth Blackburn, Carol W. Greider e Jack W. Szostak.
Fonte: Trabalho próprio; CC BY-SA 3.0.

Greider engajou-se em investigar o papel dos telômeros e da telomerase no desenvolvimento de determinados tipos de câncer. Suas pesquisas tornaram-se cada vez mais voltadas ao estudo do comprimento dos telômeros, que são fundamentais na determinação de vida da célula. 

Isso possibilitou identificar que o gene da telomerase é ativado nas células cancerosas, o que permite que essas células contornem a senescência celular e continuem crescendo como células imortalizadas, logo, em certos tipos de câncer, a atividade da telomerase poderia ser controlada de forma favorável para inibir essa atividade e retardar o crescimento do tumor, adiando assim o envelhecimento ou ainda, adiando doenças relacionadas com o mal funcionamento da divisão celular. Com os resultados obtidos, grandes implicações para a compreensão do envelhecimento e tratamento do câncer foi possível.

Suas pesquisas levaram, portanto, a novos estudos da telomerase como um alvo potencial para o desenvolvimento de medicamentos anticâncer, e foram cruciais para o reconhecimento da Instituição Nobel que a laureou com o Prêmio de Medicina em 2009.

A cientista é mãe de dois filhos, e ocupa hoje o corpo docente nas universidades George Washington e Johns Hopkins. 

Foi a mulher mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da área de Fisiologia ou Medicina, com 48 anos na época.

Como mãe, cientista e professora, Greider inspira mulheres ao redor do mundo a serem destemidas em suas trajetórias de vida e na ciência, e a se desviarem dos obstáculos que se projetam pelo caminho.
É uma mulher de grande importância para a história das mulheres nas ciências, e suas contribuições terão implicações que perdurarão por gerações e são de enorme valor para as comunidades científicas, assim como para a sociedade de modo geral.

Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, 2009

Carol W. Greiger foi laureada com o Prêmio Nobel da Fisiologia ou Medicina "pela descoberta de como os cromossomos são protegidos pelos telômeros e pela enzima telomerase", juntamente com Elizabeth H. Blackburn e Jack W. Szostak.

Dentre vários outros prêmios por suas contribuições científicas nos estudos de telômeros, estão:  Prêmio Lewis S. Rosenstiel por Trabalho Distinto em Ciências Médicas Básicas em 1999, o Prêmio Albert Lasker de Pesquisa Médica Básica em 2006, e o Prêmio Wiley em Ciências Biomédicas, também concedido em 2006.

Em 2003, foi eleita membro em várias sociedades científicas, incluindo a National Academy of Sciences. 
  Por Jessica Heindyk Jamal, Alana D’Ornelas e Clarice D. B. Amaral.

Para conhecer mais

No documentário “Jornada dentro da dislexia” (Journey into Dyslexia, by Video Verité, 2011) há um trecho no qual Carol Greider expõe as dificuldades de aprendizagem na escola e os baixos desempenhos nos teste padronizados para entrar na faculdade e no doutorado, que não a impediram de conquistar o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia em 2009. Hoje, ela é docente de Biologia Molecular e Genética na Johns Hopkins University. 

A Folha de São Paulo entrevistou Carol Greider após ela ter recebido o Prêmio Nobel, em 2009. Dentre alguns assuntos, ela falou sobre como surgiu seu apreço pela ciência, sobre a presença de mulheres que atuam na área da pesquisa e sobre processos de envelhecimento relacionados à telomerase. Vale a pena conferir!

Elizabeth Blackburn, companheira de trabalho da cientista Carol Greiger e também ganhadora do Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia em 2009, discursou no TED Talks a respeito do tema de pesquisa de ambas: a telomerase. Em “The science of cells that never get old”, ela desvenda a relação da enzima com processos de envelhecimento. Para conhecer mais sobre a história de Elizabeth Blackburn, visite o post da semana passada aqui do Blog!

Referências

Estilo MLA: Carol W. Greider - Fatos. NobelPrize.org. Nobel Media AB 2021. Disponível em :<https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/2009/greider/facts/>. Acesso em: 13 de mar. 2021.

NUZZO, Regina. Biografia de Carol W. Greider. Pnas, v. 102, n. 23, p. 8077-8079, 2005. Disponível em: <https://www.pnas.org/content/102/23/8077>. Acesso em: 14 mar. 2021.

Carol W. Greider, Ph.D. Academy of Achievement. Disponível em: <https://achievement.org/achiever/carol-greider-ph-d/>. Acesso em: 13 mar. 2021.


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