Ellen Johnson Sirleaf, Nobel da Paz, 2011

Bom dia time, tudo bem? 

Esperamos que sim! 👐

Hoje, convidamos você a se aconchegar em sua cadeira para conhecer a história da primeira presidenta eleita no continente africano, em decorrência do seu esforço de valorização às mulheres e pelas ações não violentas, a fim de acabar com a guerra civil em seu país, Libéria, na África Ocidental 👀.


Ellen Johnson Sirleaf na Reunião Presidencial

Nossa protagonista é a senhora Ellen Johnson 👆, apelidada de Dama de Ferro, que nasceu em outubro de 1938, na cidade de Monróvia, na Libéria. Ellen foi obrigada a se casar aos 16 anos com James Sirleaf, momento em que o seu nome mudou de Ellen Johnson para Ellen Johnson Sirleaf. Ellen, além de sofrer com o seu casamento permeado de abusos e violência doméstica, precisou, aos 19 anos, parar de estudar. Após 5 anos, quando viajou com o marido para os Estados Unidos, Ellen retornou aos estudos, e também fez um curso técnico em Contabilidade, em 1957. Logo após concluir o curso técnico, Ellen se separou de seu marido. Aos 34 anos, em 1968, já mãe de quatro filhos, Ellen realizou mestrado em Administração Pública e Economia na Universidade de Harvard. Quatro anos depois, Ellen voltou para o seu país de origem, Libéria, a convite do Presidente, William Tolbert, para trabalhar no ministério das Finanças. 

Este momento foi um marco no país, pois Ellen foi a primeira Ministra Mulher do país e ficou conhecida pela sua disciplina fiscal, de forma a marcar o início de uma grande vitória de reconhecimento e de valorização da capacidade das mulheres, em uma região extremamente patriarcal e machista. Ellen denunciou vários casos de corrupção e de lavagem de dinheiro no governo, o que, em decorrência, lhe foi atribuído o apelido “dama de ferro”. 

É importante para nós, leitores, sabermos que naquela região existe um histórico de corrupção muito grande, então, de forma rápida, Ellen se encontrou com muitos inimigos político-econômicos. Coragem! Por conseguinte, em 1980, o presidente foi deposto durante um golpe militar, e Ellen foi uma das exceções a não ser executada. Pelo contrário, digna, ética e educada em uma sociedade machista, Ellen, mulher negra, nesse cenário, foi nomeada pelo novo presidente como a nova presidenta do Banco Liberiano para o Desenvolvimento e Investimento. Todavia, isso não a impediu de ser presa duas vezes e exilada de seu país por aproximadamente 15 anos. Em 1997, Ellen se candidatou para a presidência, porém perdeu em um cenário de total desvantagem, onde foi derrotada por Charles Taylor, pois esse tinha uma rádio privada e o exército ao seu lado.


Ellen foi eleita Presidenta da Libéria em 2005, e reeleita em 2011.

Vamos entender mais sobre esses momentos!
A Libéria passou por uma guerra civil por, aproximadamente, 14 anos, devido ao envolvimento do presidente anterior – Taylor – “[...] em ações para financiar, armar e treinar milícias opositoras nos vizinho Serra Leoa e Costa do Marfim. No fim da segunda guerra civil liberiana (entre 1999 e 2003), Taylor foi deposto, exilado e posteriormente detido e enviado ao Tribunal Penal Internacional (TPI), onde foi condenado a 50 anos de prisão num processo que o considerou responsável por crimes de guerra e participação direta na violenta Guerra Civil de Serra Leoa.”

Em 2005, em sua candidatura, Ellen explanava a bandeira de que o exercício do poder dos homens custara ao país cair no “fundo do poço” duas vezes. Por consequência, era então necessário injetar “um pouco de sensibilidade maternal à presidência do país”, como ela mesma disse. Como relatado por Robtel Neaji Pailey, uma ativista liberiana, escritora e doutora em Estudos de Desenvolvimento pela Faculdade de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, Ellen “embarcou em uma revisão de imagem estratégica, enquadrando-se como uma ameaça tripla: educada, experiente e mulher. Abandonou o apelido de “dama de ferro”, atribuído a ela por manter a disciplina fiscal enquanto foi ministra das Finanças nos anos 1970, substituindo-o por algo mais suave e palatável: “ma Ellen”. Segundo Pailey, no livro Liderança na África Pós-Colonial, publicado em 2014, “evocando essa alcunha materna, Ellen foi capaz de se lançar como uma alternativa viável e contemporânea à enorme concorrência com outros 21 candidatos homens, alistando, dessa forma, um exército de mulheres – guarda essa informação – que a apoiaram e que votaram nela em peso”. 

A eleição de “ma Ellen”, em 2005, foi um acontecimento festejado em todo o mundo. Afinal, ela foi a primeira mulher a ser eleita presidente em todo o continente africano e venceu ninguém menos do que o homem mais popular do país, o astro internacional George Weah, o Pelé do futebol liberiano (e presidente eleito em 2017). A informação que nós pedimos para guardar é sobre uma grande quantidade de mulheres que apoiaram Ellen em sua candidatura. Nesse momento – que foi durante a guerra civil – as mulheres estavam em presença maciça nos mercados locais e assumindo os papeis de principais comerciantes que movimentavam a economia do país no varejo. Isto é, a mulher tinha uma importância ainda maior para a economia familiar. “Foi para esse contingente de mulheres, meio milhão de liberianas (cerca de 1/3 da população em 2006 e representando 85% do mercado informal de produtos agrícolas), que o governo abriu linhas de microcrédito e ajudou a financiar o SMWF (Sirleaf Market Women’s Fund), fundo usado para organizar creches e serviços de pré-escola para filhos e filhas das mulheres comerciantes.”

Nobel Prize

O chefe do comitê de premiação, Salim Ahmed Salim, da Fundação Mo Ibrahim, ao anunciar a vencedora, justificou a escolha lembrando que a ex-presidente liberiana “tomou o comando de uma Libéria destruída pela guerra civil e liderou um processo de reconciliação que se concentrou na construção de uma nação e de suas instituições democráticas. Hoje, a Libéria enfrenta muitos desafios. No entanto, durante os 12 anos no cargo, Ellen Johnson Sirleaf estabeleceu os alicerces sobre os quais a Libéria agora pode construir”, pois Ellen deixa uma Libéria, mesmo sendo um dos países mais pobre do mundo, com uma economia 4 vezes melhor do que quando a recebeu, em 2005.

Em 2018, Ellen, uma mulher negra, que, educada em uma sociedade patriarcal, foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Mo Ibrahim para a Excelência na Liderança Africana. O prêmio Mo Ibrahim é a premiação de maior prestígio e importância no continente africano, pois objetiva dar visibilidade aos chefes de Estado ou de Governo que, além de terem sido democraticamente eleitos e realizarem um mandato justo à luz da Constituição do país, realizaram uma administração responsável e conciliadora; uma premiação que celebra apenas as lideranças políticas consideradas excepcionais, como é o caso de Ellen Johnson Sirleaf.


Por Rene Miguel e Everton Bedin


Para saber mais:
A conferência, em inglês, de Ellen após ser laureada pode ser assistida em: https://www.nobelprize.org/prizes/peace/2011/johnson_sirleaf/facts/
Um artigo em português, do Projeto Colabora, disponível em: https://projetocolabora.com.br/artigo/ellen-sirleaf-venceu-o-machismo/

Referências1. 

Ellen Johnson Sirleaf (1938). Biografias de Mulheres. UFRGS. Disponível em: https://www.ufrgs.br/africanas/ellen-johnson-sirleaf-1938/. Acesso em: 23 abr. 2021.

FUEST, Veronika. This is the time to get in front: changing roles and opportunities for women in Liberia.  African Affairs, n.  107, p. 201-224, 2008. Disponível em:  https://doi.org/10.1093/afraf/adn003. Acessado em: 15 abr. 2021.

SANTOS, Alexandre dos. A africana que venceu o machismo. PROJETO COLABORA. Em 13 de abril de 2018. Disponível em: https://projetocolabora.com.br/artigo/ellen-sirleaf-venceu-o-machismo/. Acesso em:20 abr. 2021. 

SIRLEAF, Ellen Johnson. Palestra Nobel. NobelPrize.org. Nobel Media AB 2021. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/peace/2011/johnson_sirleaf/lecture/. Acesso em: 22 abr. 2021.

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