- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
TAWAKKOL KARMAN: A MÃE DA REVOLUÇÃO NO IÊMEN
Olá,
estimados leitores e leitoras, espero que estejam preparados para a nossa
viagem de hoje! Vamos iniciá-la, então, na cidade de Taiz/Iêmen, local em que,
no dia 07 de fevereiro de 1979, nasceu Tawakkol Karman, uma mulher que se
tornaria uma das principais líderes do país na luta pela democracia e pelos
direitos humanos.
Tawakkol
cresceu no Iêmen, um país localizado na Península da Arábia, durante um período
tumultuado politicamente. Em 1990, ela testemunhou a unificação do Iêmen do
Norte e do Iêmen do Sul, seguida de uma guerra civil entre as duas frações, na
qual o Norte triunfou. Conforme o Norte, repressivo, assumia o controle do
país, ocorria a dissidência do Sul, que discordava da política oficialmente
estabelecida. Essa situação gerou grandes tensões políticas e econômicas, as
quais deixaram uma parcela significativa da população sujeita a condições de
vulnerabilidade social. Dentro de casa, entretanto, ela encontrou exemplos que
ajudaram a superar os desafios impostos pela vivência nesse contexto. O pai
dela, advogado, foi um dos primeiros constitucionalistas do Iêmen, sendo
conhecido por seus esforços no combate à corrupção e ao nepotismo. Com ele, adquiriu
coragem para falar a verdade e confrontar a opressão e a injustiça, além de
conhecer a cultura legal para reivindicar direitos. Por sua vez, a mãe lhe
ensinou a amar as pessoas e a entender o sofrimento delas, valores que
fundamentaram seu ativismo em prol dos direitos humanos.
Em
1999, Karman obteve uma graduação em Comércio, na Universidade de Ciências e
Tecnologia, em Sanaa, a capital do país. Depois, obteve um Mestrado em Ciências
Políticas na Universidade Sanaa. Ela iniciou, então, seu trabalho como
jornalista, escrevendo artigos, produzindo documentários e disseminando alertas
de notícias via mensagens de texto. Exercer essa profissão em um país dominado
por um governo repressor e autoritário, que restringia e ameaçava o trabalho da
imprensa, representava um enorme desafio. Por isso, com o objetivo de combater
essas dificuldades, em 2005, juntamente com colegas de profissão, Tawakkol
fundou o grupo Women Journalists Without Chains (Mulheres Jornalistas
sem Correntes - em livre tradução), cuja missão era promover a liberdade de
expressão e os direitos democráticos. A organização visava combater a repressão
no mundo da informação – que leva a prisões, espancamentos e outras agressões
contra aqueles que nele estão envolvidos – e defender o direito de todos os
cidadãos de se tornarem donos de um meio de comunicação. O grupo tem
participado, desde então, de ações contra a corrupção e o abuso de poder, que
resultaram na libertação de jornalistas que haviam sido detidos ou sequestrados
e possibilitaram que jornais independentes ou de oposição que haviam sido
proibidos fossem publicados novamente.
A
ativista sempre acreditou que a não violência é o caminho mais efetivo para
combater a tirania e encontrar uma saída para conflitos. Nesse sentido, de 2007
a 2010, liderou semanalmente, na Praça Al-Tahrir, no centro de Sanaa, sit-ins
(protestos sentados), que são manifestações pacíficas nas quais se ocupa,
geralmente, um espaço público. Com isto, promoveu a luta pela democracia e
pelos direitos humanos no país. Outra maneira encontrada por ela para combater
as situações de injustiça e opressão, foi o envolvimento na política, como
membro do principal partido político de oposição do regime no Iêmen, o
Al-Islah. Entretanto, ela não deixou de expressar suas opiniões contrárias
àquelas dos demais membros do partido, tendo entrado em conflito com os
conservadores religiosos que faziam parte do mesmo, de modo a defender os
direitos das mulheres. Em 2010, por exemplo, fez duras críticas aos membros que
foram contra aumentar a idade do casamento legal para mulheres para 17 anos.
Tawakkol Karman
Crédito: Jindrich Nosek (Trabalho próprio) via Wikimedia Commons;
Licença: CC BY-SA 4.0
No
início de 2011, o movimento chamado de Primavera Árabe se espalhava por países
do Oriente Médio e Norte da África. Nele, a população foi a rua, reivindicar
melhores condições de vida, utilizando de protestos e revoluções que,
inclusive, resultaram na queda de ditadores em alguns países. Em 23 de janeiro
daquele ano, Karman foi presa após liderar um protesto em Sanaa contra o
governo de Ali Abdullah Saleh. A prisão dela fez com que protestos maiores
ocorressem, que logo desenvolveram demonstrações em massa contra o regime.
Liberada no dia seguinte, ela se tornou uma das líderes do movimento no Iêmen,
ajudando a organizar um protesto sentado na Universidade Sanaa, no qual
milhares de pessoas se manifestaram pacificamente por meses, apesar do
tratamento violento demonstrado pelas forças policiais. A participação ativa
nos protestos contra o regime fez com que ela ficasse conhecida como “Mãe da
Revolução”. Essa luta ajudou a reduzir as violações do regime estabelecido no
país, criando uma força de pressão civil contra o governo, que levou a renúncia
de Saleh em 23 de novembro de 2011. Após esse evento, o Iêmen entrou em um
período de transição, no qual as pessoas puderam gozar de seus direitos e
liberdades de expressão, de reunião e de manifestação, sem detenções ou
prisões.
As
ações de ativismo de Tawakkol Karman fizeram com que, em 2011, ela fosse a
primeira iemenita, a primeira mulher árabe e a segunda mulher muçulmana a ser
laureada com o Prêmio Nobel da Paz “pela luta não violenta para a segurança de
mulheres e para o direito das mulheres de participação plena no trabalho de
construção da paz”, o qual foi compartilhado com Ellen Johnson Sirleaf e Leymah
Gbowee.
Tawakkol Karman, Leymah Gbowee e Ellen Johnson Sirleaf, recebendo o Prêmio Nobel da Paz em 2011.
Crédito: Harry Wad
(Trabalho Próprio) via Wikimedia Commons; Licença: CC BY-AS 3.0
Os
esforços dos manifestantes pela promoção dos direitos humanos no Iêmen fizeram
com que o país passasse por uma situação de maior estabilidade por certo tempo.
Entretanto, em 2015, a milícia Houthi, bancada pelo Irã e apoiada por Ali
Abdullah Saleh, liderou uma contrarrevolução, tendo início o caos e a guerra,
dos quais se tornaram vítimas, novamente, os iemenitas. Segundo a Organização
das Nações Unidas (ONU), atualmente, o Iêmen sofre a pior crise humanitária do
mundo, que pode levar o país a uma situação de fome nos próximos anos. A
situação pode ficar ainda pior, pois em 10 de janeiro de 2021, a administração
do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, indo contra avisos da ONU
e outras agências humanitárias, declarou os rebeldes iemenitas do Houthi como
uma organização terrorista estrangeira, o que pode obstruir a entrega de ajuda
ao país. Tawakkol Karman continua seus esforços para mudar essa situação, com
uma luta cujo foco permanece na democracia, visando dar fim à situação imposta
pelo golpe de Estado e realizar um referendo para elaborar um projeto de
Constituição e, depois, realizar eleições.
Dentre
as ações no cenário internacional, em maio de 2020, Tawakkol começou a
trabalhar no Comitê de Supervisão do Facebook, um órgão independente no qual
usuários podem apelar pela remoção ou recolocação de conteúdo no Facebook e no
Instagram. Isso fez com que ela fosse submetida a uma campanha de difamação
online, promovida por meios de comunicação de regimes ditatoriais. Além disso,
em sua conta no Twitter, recebeu e ainda recebe inúmeras ameaças de bots eletrônicos
(softwares programados para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão)
da Arábia Saudita. Porém, segue firme em sua luta, pois prometeu a si mesma, ao
marido, aos três filhos e ao país que a única coisa que temeria é não ser capaz
de alcançar liberdade e democracia.
Karman pontua, ainda, que a paz não é apenas o fim da guerra, mas também o fim da opressão e da injustiça. Por isso, quando a situação se normalizar no seu país, pretende fundar um partido político que reúna jovens e mulheres, para conduzir o projeto cívico de fim da opressão e defesa dos direitos humanos. Além disso, pretende continuar sua luta no cenário internacional, em defesa da paz e contra a tirania.
Algumas curiosidades sobre Tawakkol Karman...
·
Trabalhou,
juntamente com Ellen Johnson Sirleaf, com quem dividiu o Prêmio Nobel da Paz em
2011, e junto à Organização das Nações Unidas (ONU) nos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável. Os ODS, segundo as Nações Unidas – Brasil, “são um
apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o
clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e
de prosperidade”.
·
Faz parte da Nobel’s
Women Initiative (Iniciativa das Mulheres do Nobel), juntamente com
Rigoberta Menchú, Jody Williams, Shirin Ebadi, Leymah Gbowee – com quem dividiu
o Prêmio Nobel da Paz de 2011 – e Wangari Maathai. A iniciativa busca ampliar o
poder e visibilidade de mulheres trabalhando ao redor do mundo pela paz,
justiça e equidade.
Esperamos que
vocês tenham gostado da viagem de hoje, estimados leitores e leitoras.
Cuidem-se e até a próxima!
Marcia
Gabriela Pianaro Valenga
Tatiana
Simões
FONTE: Unesco (2018)
Você pode encontrar um pouco mais sobre Tawakkol Karman em...
Neste artigo, escrito por Tawakkol Karman para as
Crônicas da Organização das Nações Unidas, a autora discute o papel
desempenhado pelas mulheres nos movimentos da Primavera Árabe.
Ele pode ser lido na íntegra em: https://www.un.org/en/chronicle/article/women-and-arab-spring
·
Vídeo “Exclusive:
Nobel Peace Prize Laureate Tawakkol Karman on the Struggle for Democracy in
Yemen” (Exclusivo: Laureada com o Prêmio Nobel da Paz Tawakkol Karmann a
Luta pela Democracia no Iêmen)
Em entrevista concedida a Democracy Now! em
2011, Tawakkol Karman fala sobre a sua história e o trabalho que vem realizando
na busca da democracia e fim da tirania no Iêmen.
Ela pode ser vista na íntegra no link: https://www.youtube.com/watch?v=sB3f9y9zxyE
·
Site “Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável”
Na página da Organização das Nações Unidas, os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, nos quais Tawakkol Karman trabalhou,
podem ser conhecidos com detalhes.
Ele pode ser visitado em: https://www.un.org/sustainabledevelopment/
·
Site “Nobel
Women’s Initiative” (Iniciativa das Mulheres do Nobel)
No site da Iniciativa das Mulheres do Nobel, grupo que
Tawakkol Karman integra, pode-se ter mais informações sobre ela e as demais
laureadas que fazem parte da iniciativa, além das ações defendidas e
desenvolvidas por elas.
Ele pode ser visitado em: https://nobelwomensinitiative.org/
·
Site “Women
Journalists Without Chains” (Mulheres Jornalistas sem Correntes)
No site das Mulheres Jornalistas sem Correntes, organização da qual
Tawakkol Karman foi cofundadora, pode-se encontrar informações sobre as ações
que vem sendo desenvolvidas pelo grupo, para combater a repressão contra a
imprensa.
Ele pode ser visitado em: http://womenpress.org/en/?lng=english
Referências
BRITANNICA. Tawakkul Karman. Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Tawakkul-Karman. Acesso em: 23 mar. 2021.
G1. Facebook nomeia primeiros 20 membros de comitê que
vai julgar remoção de conteúdo; um deles é brasileiro. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2020/05/06/facebook-nomeia-primeiros-20-membros-de-comite-que-vai-julgar-remocao-de-conteudo-um-deles-e-brasileiro.ghtml. Acesso em: 25 mar. 2021.
NOBEL PRIZE. Tawakkol Karman – Facts. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/peace/2011/karman/facts/. Acesso em: 23 mar. 2021.
NOBEL WOMEN’S INITIATIVE. Tawakkol Karman. Disponível
em: https://nobelwomensinitiative.org/laureate/tawakkol-karman/. Acesso
em: 23 mar. 2021.
TIME.
She Helped Launch Yemen's Revolution. 10 Years On, Tawakkol Karman Still
Believes Change Is Possible. Disponível em: https://time.com/5930042/tawakkol-karman-yemen/. Acesso em: 23 mar. 2021.
UNESCO. Tawakkol Karman: “A não violência é o
denominador comum de todas as minhas ações”. Disponível em: https://pt.unesco.org/courier/janeiro-marco-2018/tawakkol-karman-nao-violencia-e-o-denominador-comum-todas-minhas-acoes. Acesso em: 23 mar. 2021.
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Comentários
Postar um comentário