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Frances Arnold e suas aventuras científicas com as enzimas
Olá a todas e todos, como vocês estão? Nós estamos bem e gostaríamos de fazer uma pausa para comemorar a primeira dose da vacina de duas das autoras desse texto: Prof.ª Dr.ª Glaucia Pantano e Prof.ª Dr.ª Camila Silveira!!! Vacina é vida!!! Viva o SUS!!!
Agora voltando… estamos muito
felizes em fazer mais uma viagem no tempo com vocês! Hoje conheceremos uma
mulher corajosa, apaixonada pelas Ciências e que sempre está em busca de
aventuras! Vem com a gente?
Frances Hamilton Arnold nasceu em
Pittsburgh, Pensilvânia, nos Estados Unidos da América (EUA), em 25 de julho de
1956. Seu pai a chamava de “Cisne” (até que esse apelido foi trocado por
“Vampira” quando era adolescente). Ela é a segunda filha de William Howard
Arnold e Josephine Inman Routheau e o irmão mais velho, Bill, tinha dois anos e
meio quando ela nasceu. 13 meses após seu nascimento, vieram seus irmãos
Edward, depois David e finalmente Thomas. Nessa época, Frances já tinha 12 anos
e, de acordo com ela própria, tinha idade suficiente para tomar conta de um
bebê.
A família de Frances H. Arnold era
católica e muito grande, sendo que muitas das pessoas, até hoje, ainda se
reúnem em casas de veraneio em Macatawa, na costa leste do Lago Michigan. As
mulheres comandavam tudo, organizando as grandes reuniões familiares que
aconteciam nos verões. Frances considerava Macatawa um paraíso durante sua
juventude, porque as crianças podiam correr livremente, em grupos ou sozinhas.
Em determinada ocasião, sua mãe ficou desesperada quando viu o triciclo de
Frances abandonado no final das docas, enquanto Frances se encontrava embaixo
delas, desenterrando um caranguejo.
Sem internet ou televisão,
aproveitava o tempo com livros, bicicletas, amigas e amigos. Frances conta que
leu todas as edições da revista “Readers’
Digest” (publicada no Brasil com o título de “Seleções”) e as revistas do “Analog: Science Fiction and Fact”
(“Analógico: Ficção Científica e Fato”, em tradução livre) que seu pai adorava.
Ela ficava fascinada com os relatos de membros amputados sendo colocados por
meio de cirurgias e se imaginava seguindo um ídolo, o Dr. Christiaan Barnard,
que realizou o primeiro transplante de coração humano em 1967. Em um único
verão, Frances leu todos os livros de Medicina disponíveis na Biblioteca
Pública Local de Holland, mas abandonou a ideia de ser uma cirurgiã quando
descobriu que a mera visão de sangue a deixava nauseada.
Os verões eram maravilhosos para a
pequena Frances H. Arnold, mas os anos escolares em Pittsburgh eram outra
história. De acordo com a cientista, ninguém sabia o que fazer com uma
garotinha esperta na década de 1960. Tentativas para manter Frances ocupada
incluíram aulas de música (piano e violino), muitos projetos de costura e arte,
patinação no gelo (o que envolvia caminhar quase um quilômetro e meio em dias
congelantes até o ringue de patinação) e aulas de catequese aos sábados em
Wilkinsburg, que mais uma vez incluía caminhar na neve, chuva ou sol. Frances
conta que passava o máximo de tempo possível fora de casa, procurando por
salamandras e garrafas de refrigerante que podiam ser trocadas na farmácia
local por dois centavos. Ela conduzia seus irmãos mais jovens em aventuras que
envolviam explorar grandes calhas e canos; e quando isso não era possível por
causa da neve, assistiam as reprises da série “I Love Lucy” na televisão e jogavam inúmeros jogos de guerra.
Seu pai, um físico experimental que
recebeu o título de doutor em Princeton em 1955 aos 24 anos, deixou a vida
acadêmica alguns anos depois para trabalhar na indústria nuclear, que dava seus
primeiros passos na época. A Corporação Elétrica Westinghouse em Pittsburgh
iria fornecer uma eletricidade muito barata e ele auxiliou na criação da
tecnologia do reator pressurizado de água que era preciso para tornar isso
realidade. Com isso, nos anos 60, o pai de Frances passava muito tempo fora de
casa, ficando longos períodos em Nevada para fazer testes nucleares. Mas quando
estava em casa, ele adorava construir modelos de casas e aviões, ouvir música
clássica, ler e trabalhar em suas coleções de selos e moedas. Frances H. Arnold
considerava seu pai a pessoa mais inteligente do mundo porque ele sabia
explicar como as coisas funcionavam e conseguia consertar praticamente tudo.
Para passar tempo com ele, Frances e seu irmão Eddy disputavam os selos repetidos
da coleção e os dividiam entre si. Ao colecionar selos, Frances aprendeu
geografia e que os limites geográficos, governos e até mesmo idiomas, mudavam
com o tempo. Também aprendeu que impérios desmoronam e que antigas colônias
ganham independência.
Frances foi uma aluna brilhante no
Ensino Fundamental. Aos dez anos de idade, muito à frente das(os) colegas,
passava grande parte do tempo desenhando, fazendo pessoas de papel para suas
amigas e amigos e aperfeiçoando sua escrita espelhada (por ser canhota, gostava
de escrever ao contrário e impressionar as pessoas). Seus pais, então,
convenceram a escola a deixá-la participar de algumas disciplias do Ensino
Médio e uma de suas aulas extras favoritas era datilografia, mesmo não sendo
muito boa e precisando sentar-se em cima de duas listas telefônicas para
conseguir alcançar a máquina de escrever, enquanto as(os) demais estudantes
riam da pequena Frances sentada nas listas. Ela conta que ainda possui cartas
que datilografou para seu pai durante as aulas. Também participou de aulas de
desenho mecânico que, mesmo sendo bastante desafiadoras, a ensinaram a
importância de olhar e descrever objetos por meio de diferentes perspectivas.
Aos 13 anos, Frances H. Arnold
estava cansada do ensino na sala de aula. Era 1969 e a cidade de Baltimore,
onde sua família morava na época, estava um caos por causa dos protestos devido
ao assassinato de Martin Luther King Jr., em abril do ano anterior. Frances não
foi admitida de volta na escola privada para garotas que sua mãe havia batalhado
muito para colocá-la. Então, em vez de frequentar a escola, Frances começou a
pedir carona para Washington D.C. para ir aos protestos contra a guerra e
passou apenas metade do 9º ano na escola pública do centro da cidade, até o
emprego do seu pai levar a família de volta para Pittsburgh. Essa mudança só
tornou sua viagem para os protestos mais longa.
Como uma adolescente que queria
entender o mundo, mas que ainda não tinha como explorá-lo, Frances conta que se
distanciou de suas(seus) colegas e da família. Viveu por conta própria em um
apartamento terrível, degradado e infestado de insetos no terceiro andar de um
prédio em um bairro violento, trabalhando em diversos empregos para pagar seu
aluguel e suas contas. Tudo isso enquanto sonhava com um futuro que iria
libertá-la das limitações de ser uma mulher jovem no início dos anos 1970. Seus
empregos foram vender sementes aos 10 anos, comprou sua bicicleta assim;
garçonete de lanchonete aos 14 anos; auxiliar de pizzaria quando tinha 15 anos;
funcionária de loja de departamento e recepcionista aos 16; garçonete de bar
quanto tinha 17 anos, sendo que Frances mentiu que tinha 22 para poder
trabalhar lá; garçonete no famoso clube de jazz de Pittsburgh Walter Harper’s Attic aos 18; e
motorista de táxi, também com 18 anos.
Frances H. Arnold em 2012 - Fonte: Wikimedia Commons; Licença: CC BY-SA 3.0.
Até se mudar para a Universidade,
Frances H. Arnold tinha se tornado especialista em manobrar um enorme táxi
amarelo nas colinas íngremes e nas ruas esburacadas de Pittsburgh. Aquelas ruas
eram mais estreitas que seu táxi, mas as(os) clientes insistiam que ela
conseguiria passar e, geralmente, estavam certas(os). Sem GPS na época, ela
construiu mapas em sua cabeça e até hoje se beneficia do bom senso de direção
que desenvolveu. Dirigir um táxi foi um trabalho muito difícil, com dias longos
que resultavam em 20 ou 25 dólares, mas em poucas semanas Frances passou dos
táxis velhos, sujos e caindo aos pedaços que davam para as(os) novas(os)
motoristas para os táxis novos e limpos, que rendiam gorjetas maiores. Mas a
diversão teve que acabar, afinal, ela estava indo para a Universidade.
Em 1974, Frances H. Arnold ingressou
na Universidade de Princeton. Nessa época, as primeiras mulheres estavam se
formando, pois a Universidade de Princeton apenas começou a aceitá-las em 1969.
Apenas 15% da sua classe eram mulheres, e a porcentagem diminuía na Engenharia
Mecânica e Aeroespacial (EMA), área que Frances escolheu. Não apenas a
Universidade de Princeton, mas muitas outras ao redor do mundo e inclusive no
Brasil, passaram a receber alunas recentemente (há menos de 100 anos atrás).
Além disso, em algumas partes do mundo, as mulheres ainda são proibidas de
terem acesso à Educação. Os reflexos disso permanecem e causam grandes
prejuízos na vida delas, por exemplo, fazendo com que elas sejam minoria e
sofram preconceito nas Ciências e Engenharias. Por isso, o MMC reforça sempre a
importância de lutarmos pela justiça social para as mulheres, para que nós
possamos estudar e escolher nossos próprios caminhos, quaisquer que eles sejam!
Mas apesar das dificuldades e das poucas mulheres na turma, Frances H.
Arnold permaneceu na EMA. Frances estava ocupada adquirindo o máximo de conhecimento e novas ideias
que conseguia: italiano, economia, teoria socialista, russo, literatura russa,
história da arte e muita matemática e física. Sua falta de interesse pela
química refletiu no seu ano como caloura e ela não progrediu nessa área na
época.
Em Princeton, Frances continuou a
dirigir táxis, trabalhar na biblioteca, montar equipamentos eletrônicos e
limpar a casa do filósofo Thomas S. Kuhn. Ela precisava de dinheiro para
sustentar seu vício em viajar pela companhia aérea Laker Airways, a qual tornava possível viajar para Londres por 99
dólares para quem tivesse disposição de esperar em uma fila de bilheteria às
quatro horas da manhã em Manhattan e viajar meia noite no mesmo dia. Durante
seus últimos dois anos em Princeton, Frances passava todo feriado em Londres,
Itália ou Paris.
Viajar abriu um horizonte fascinante
de diferentes culturas e culinárias, Frances conta que ama a criatividade das
pessoas com a comida e ficou encantada em aprender que a comida do cotidiano
poderia ser deliciosa. Ela lembra que, no seu penúltimo ano no Ensino Médio
(1973), seus avós maternos levaram ela e seu irmão Bill para um grande tour na
Europa. Sendo assim, visitaram a Europa por muitos anos, viajando para suas
cidadezinhas favoritas na Áustria, Alemanha, França e Itália. Passaram dois
meses inteiros na estrada, não ficando mais que duas noites em um único lugar.
Todas e todos pareciam conhecer e amar seus avós, Edward e Josephine Routheau.
“Mama” e “Baba” ensinaram a Frances tudo que ela precisava saber para aproveitar
a vida com pouco dinheiro.
Com muita vontade de retornar a
Europa e aproveitar tudo por conta própria, Frances tirou um tempo depois do
seu segundo ano em Princeton para trabalhar em Madri e Milão, entre 1976 e
1977. Durante esse tempo, não falou em inglês, descobriu muitas culturas novas
e fez várias amizades. Junto com um namorado italiano, Frances viajou de moto
por todo o norte da Itália e, no verão, o casal foi até Istambul. Acampavam e
dormiam em qualquer lugar que os aceitassem e, com seu violão, ela
compartilhava as músicas de Bob Dylan e Francesco Guccini com qualquer pessoa
que quisesse escutar.
Durante os últimos dois anos em
Princeton, Frances se apaixonou pelas aulas e descobriu que tinha muita
facilidade para matemática e engenharia. Assim, em 1979, ganhou seu diploma em
Engenharia Mecânica e Aeroespacial, se formando com grandes honrarias. A crise
energética dos anos 70 e as(os) mentoras(es) de Princeton apaixonadas(os) em
conectar a Ciência aos benefícios para a sociedade desencadearam seu interesse
em energia alternativa.
Depois de se formar, Frances H.
Arnold voltou a economizar, fez suas malas novamente e viajou do Equador para
São Paulo, para realizar um estágio em projetos de energia solar com o
professor José Goldemberg, que mais tarde se tornou o Ministro do Meio Ambiente
no Brasil (1992) e o “pai” dos programas de combustíveis de etanol. Levou seis
semanas pela trilha Inca de ônibus, para ir de Guayaquil (Equador) para Santa
Cruz (Bolívia). A viagem de Lima para Ayacucho levou mais de 36 horas em uma
subida íngreme, rochosa e lenta, acompanhada por uma cabra coberta com pulgas.
Com um diploma em Engenharia
Mecânica e a ênfase dada pela administração do presidente dos EUA, Jimmy
Carter, às fontes de energia limpas e renováveis, Frances teve seu primeiro
emprego na área. Entre 1979 e 1980, ela trabalhou em um laboratório nacional
recém-criado, o Instituto de Pesquisa em Energia Solar (SERI, sigla em inglês
para “Solar Energy Research Institute”),
atual Laboratório de Energia Renovável Nacional (NREL, sigla em inglês para “National Renewable Energy Laboratory”),
em Golden, Colorado. As funções da pesquisadora no Grupo de Transferência de
Energia de Frank Kreith eram, principalmente, desenvolver novas tecnologias
passivas de aquecimento e arrefecimento solar; e ajudar a escrever documentos
de posicionamento para a Organização das Nações Unidas (ONU) sobre energia
solar no mundo. Fora do escritório, aprendia como dirigir uma motocicleta de
trilha e a melhorar suas habilidades no esqui. Em troca de aluguel grátis,
vivia em uma propriedade equestre e cuidava dos animais quando o dono não
estava presente. Também tocava diferentes músicas em seu violão para fugir da
música country que estourava em todas as estações de rádio.
Com Ronald Reagan ganhando as
eleições para a presidência dos Estados Unidos, o futuro da energia solar
passiva de aquecimento e arrefecimento ficou limitado. Frances nunca tinha ido
para a Califórnia, mas no final de 1980 colocou seus poucos pertences em seu
Fusca vermelho e foi para a Universidade da Califórnia, em Berkeley. As(os)
engenheiras(os) químicas(os) arriscaram em ter uma engenheira mecânica em sua
equipe e ela foi aceita no programa de Doutorado, iniciando em janeiro de 1981.
A ideia inicial de Frances era trabalhar
com biocombustíveis celulósicos, mas o interesse nessa tecnologia estava
diminuindo: os automóveis explodiram outra vez às proporções gigantescas, e os
embargos do óleo foram esquecidos. Na opinião da cientista, com isso, cuidar do
planeta também foi esquecido. O financiamento para projetos de energia
alternativa se tornaram escassos, o professor com quem trabalhava se aposentou
e ela teve que mudar a direção de sua pesquisa. O professor Harvey Blanch,
recém contratado pela Universidade de Berkeley, entretanto, estava disposto a
apoiar uma nova indústria, a indústria de biotecnologia. Uma revolução estava
tomando conta da Califórnia e Boston, novas empresas com os nomes “Genentech” e “Amgen” estavam procurando engenheiras(os) para aumentar seus processos
de produção de proteínas terapêuticas, utilizando tecnologia de DNA
recombinante.
Assim, Frances iniciou a pesquisa
sobre biosseparações, estudando afinidade cromatográfica, desenvolvendo e
validando modelos matemáticos em separações cromatográficas. Também passou a
apreciar os desafios que encontrava ao trabalhar com proteínas: tudo era feito
para manter as proteínas felizes, de acordo com ela. Isso não era fácil, uma
vez que as proteínas são marginalmente estáveis e, ao que parecia,
desnaturariam à menor provocação. Além disso, a maioria das terapias proteicas
envolvia estruturas altamente complexas e modificadas que são facilmente
inutilizadas quando fabricadas, purificadas ou armazenadas sob condições
erradas. Engenheiras(os) de processo tinham pouca experiência com proteínas, ou
com bioquímica, e os processos de separação de engenharia química padrão eram
inadequados para a preservação das proteínas.
A Pós-Graduação, assim como a
Graduação, foi outro momento de grande aprendizado, mas desta vez Frances H.
Arnold se dedicou a estudar química orgânica, bioquímica, imunologia,
enzimologia, matemática avançada e todo o currículo de Graduação e
Pós-Graduação em Engenharia Química. A química orgânica fazia sentido para ela:
fazer moléculas era como construir um quebra-cabeça. Depois de fazer esta
disciplina, Frances auditava vários cursos de química orgânica como anotadora
oficial para o serviço de anotações estudantil, chamado “Black Lightning” (“Relâmpago Negro”, em tradução livre). Os
bioquímicos Jack Kirsch e Judith Klinman apresentaram à Frances as notáveis
capacidades catalíticas das enzimas, em uma perspectiva físico-química que ela
adorou, e Allan Wilson apresentou a evolução molecular das sequências
proteicas. Ela se envolveu em novas áreas do conhecimento, fazendo cursos de
Ciências e Matemática apenas por diversão, prática que continuou fazendo
décadas mais tarde.
Frances H. Arnold na cerimônia do
Prêmio Nobel, em Estocolmo (Suécia), dezembro de 2018
Fonte: Wikimedia Commons; Licença:
CC BY 2.0.
Em seu último ano na Pós-Graduação,
ela pensou em tentar ser professora universitária. Até então, jogava cartas e
ia viajar com algumas(uns) jovens professoras(es) da faculdade de química da
Universidade, mas não tinha muita noção do que uma professora fazia. Seu
orientador de doutorado, Harvey Blanch, no entanto, abriu empresas e consultava
para indústrias, assim como algumas(uns) das(os) professoras(es) de bioquímica,
e essa atividade multifacetada tornou o empreendimento acadêmico muito mais
interessante para Frances. Ela queria uma conexão com o “mundo real”, como
também a independência que não tinha experimentado em suas posições industriais
e laboratoriais anteriores.
Com isso, decidiu se inscrever para
uma posição acadêmica e o ano de 1984 era uma ótima época para fazer isso, pois
as Universidades estadunidenses estavam acordando para o fato que cada vez mais
e mais mulheres estavam interessadas pelas Ciências e Engenharias. Naquela
época, ofereceram muitas posições em ótimos lugares para Frances, incluindo o
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Em 1985, ela aceitou um cargo
na Universidade de Minnesota, a qual possuía primeiro lugar no ranking de engenharia química. Ao mesmo
tempo, Frances financiou um Pós-Doutorado de um ano na Universidade de
Berkeley, com o biofísico Ignacio Tinoco, para aprender métodos
espectroscópicos de caracterização de biomoléculas, pois pensou que usaria em
seu futuro laboratório. Frances H. Arnold tinha apenas 29 anos na época.
Nesse mesmo período, conheceu Jay
Bailey, um professor de engenharia bioquímica de renome mundial da Caltech, um
pequeno instituto privado no sul da Califórnia naquele tempo. Então, Frances se
inscreveu para uma posição de Professora Assistente na Caltech. Jay e ela se
casaram em 1987, em Macatawa, cercados de amigas, amigos e família. Mudou-se
para a Caltech em meados de 1986, onde ela recebeu um cargo temporário como
pesquisadora de Pós-Doutorado. Lá trabalhou no laboratório de Jack Richards,
onde aprendeu como projetar a sequência de uma proteína, uma tecnologia que
queria para sua própria pesquisa.
Richards tinha recentemente
desenvolvido a “mutagênese de cassete”, um dos primeiros métodos de mutagênese
direcionada para a engenharia de proteínas. A primeira incursão em biologia
molecular e engenharia genética de Frances foi fazer um par de citocromos
mutantes para uma colaboração com o grupo de Harry Gray, que queria usá-las
para sondar a transferência biológica de elétrons. Mas Frances conta que tudo
era difícil em 1986: sintetizar oligonucleotídeos, sequenciamento de DNA,
clonagem e trabalhar com enzimas de restrição eram problemas para ela, ao mesmo
tempo que sua experiência com experimentos de clonagem era muito limitada. Mas
ela perseverou e sua primeira sequência mutante foi confirmada, o que deixou-a
muito orgulhosa! Após algum tempo, Frances H. Arnold se tornou Professora
Assistente de Engenharia Química no Instituto de Tecnologia da Califórnia, em
janeiro de 1987.
Frances, então, também iniciou seu
próprio grupo de pesquisa, com o intuito de investigar proteínas. Ela
incentivava muito suas e seus estudantes de Pós-Graduação, dizendo que elas(es)
poderiam aprender e fazer qualquer coisa. Seu novo laboratório iria garantir
que a engenharia de proteínas se tornasse parte da engenharia química e esses
primeiros esforços para criar sistemas biológicos geneticamente tornaram-se
importantes e industrialmente relevantes para o que agora é conhecido como
biologia sintética.
O problema era que ninguém realmente
sabia como criar proteínas úteis. As proteínas, especialmente as enzimas,
possuem muitas aplicações, desde monitorar os níveis de glicose no sangue até
tirar manchas da roupa. Mas muitos dos problemas que a engenharia química
enfrentou com o uso de proteínas para aplicações industriais vieram de sua
incapacidade de funcionar em condições não naturais. As proteínas
frequentemente apresentavam um desempenho fraco fora de seus ambientes naturais
e uma(um) engenheira(o) teria que desenvolver mecanismos de Rube Goldberg para
purificá-las, armazená-las e usá-las. Entretanto, com o advento das tecnologias
para criar sequências da proteína, e consequentemente suas propriedades,
tornou-se possível pela primeira vez, na década de 1980, produzir a própria
proteína. Assim, o grupo de Frances H. Arnold criou sequências de proteínas
para fazê-las se comportar em um processo ou aplicação, ao invés de criar um
processo ou aplicação em volta da proteína.
Frances também queria mostrar que as
proteínas poderiam ser criadas para propriedades incomuns, mas úteis, que
abririam uma nova gama de aplicações. Alex Klibanov, pesquisador do Instituto
de Tecnologia de Massachusetts (MIT, sigla de Massachusetts Institute of Technology) surpreendeu o mundo nos anos
80 ao mostrar que enzimas podiam funcionar quando estavam suspensas em
solventes não-polares secos. Dissolver enzimas em altas concentrações de
solventes polares, entretanto, imediatamente destruía a atividade delas, mesmo
que fosse possível mostrar que elas mantinham suas estruturas tridimensionais
dobradas. A visão predominante na época era que as proteínas não podiam
apresentar propriedades altamente não naturais, como a capacidade de funcionar
em solventes orgânicos polares. O argumento parecia ser que porque a Natureza
nunca o fez, não podia ser feito.
Mas Frances assumiu o desafio! Seu objetivo era fazer com que enzimas catalisassem reações quando dissolvidas em solventes orgânicos polares, porém ainda não se sabia como alterar as sequências da proteína para esse fim. As tentativas da cientista em planejar um experimento com enzimas para solventes orgânicos foram falhas, assim como a maioria dos experimentos com o objetivo de melhorar proteínas naquela época. Enquanto era fácil diminuir ou mesmo destruir a função de uma enzima, havia poucos relatos de como tornar as enzimas melhores. E o processo era difícil, pois era necessário ter a estrutura cristalina da enzima e então entender a estrutura e a função da proteína para identificar não apenas os locais de mutações úteis, mas quais aminoácidos deveriam ser colocados lá.
Na década de 1980, alguns
laboratórios estavam começando a projetar ácidos nucleicos, peptídeos e até mesmo
proteínas usando a técnica de clonagem “phage
display” e outros métodos para fazer bibliotecas de biomoléculas, que eram
classificadas usando ensaios de ligação ou seleções genéticas para encontrar as
sequências úteis. Frances H. Arnold, por sua vez, apreciava a complexidade das
proteínas, assim como a enorme gama de possibilidades que elas traziam. Então,
a pesquisadora desenvolveu uma abordagem alternativa e muito adequada para os
problemas de seu interesse. Adotando um método simples e novo, desenvolvido
para fazer mutações aleatoriamente em um gene específico, a reação em cadeia da
polimerase sob condições propensas a erros, Frances e seu grupo de estudantes
fizeram bibliotecas de bactérias com genes aleatoriamente mutados em apenas um
ou dois locais e os rastrearam para as propriedades que queriam, usando ensaios
rápidos em placas de petri ou leitores de placas de 96 poços. Com isso, pegavam
os genes que poderiam melhorar proteínas e repetiam o processo para acumular
benefícios, evoluindo as proteínas passo a passo até alcançarem os objetivos
funcionais.
Frances H. Arnold na Caltech, 2008 -
Licença: CC BY-SA 3.0.
Então, para a alegria de Frances e o
grupo, mutações benéficas e surpreendentes apareceram em suas enzimas evoluídas
em laboratório. Quando mapearam as mutações na estrutura proteica,
surpreenderam-se ao ver que elas aconteciam frequentemente na superfície da
enzima, onde cientistas da época argumentavam que os efeitos mutacionais eram
praticamente neutros. Mutações ativas também apareceram longe dos sítios ativos
da enzima, onde ninguém poderia explicar seus efeitos, muito menos esperar por
eles, a princípio. Em 1990, estavam finalmente no caminho para a produção de
enzimas úteis, usando a evolução como guia.
No ano de 1990, nasceu o primeiro
filho de Frances H. Arnold e Jay Bailey, James Howard Bailey. Na ocasião,
Frances tinha 34 anos e conta que não tinha cuidado com ela mesma, trabalhava
demais, mas tinha um lindo menino, estava cheia de energia e sabia exatamente
para onde precisava ir!
No entanto, nem todas as pessoas na
comunidade científica concordavam com a abordagem de Frances na pesquisa dela.
O campo da engenharia de proteínas, com suas principais raízes na bioquímica,
estava muito focado no design
racional. As(os) químicas(os) proteicas(os) argumentavam que poderiam prever
mutações e sequências benéficas usando abordagens orientadas por estruturas e
até mesmo métodos computacionais. Alguns das(os) colegas de química da Caltech,
desprezando a popularidade da química combinatória, que envolvia sintetizar e
rastrear grandes bibliotecas moleculares para encontrar drogas, consideravam os
estudos de Frances H. Arnold como preguiça intelectual. Entretanto, Frances era
destemida e não se abalou, porque tinha uma abordagem que funcionava e
acreditava muito em sua pesquisa!
Frances conta que quando finalmente
estava no caminho certo para a engenharia de proteínas, a vida fora do
laboratório estava saindo dos trilhos. Seu casamento estava fracassando e Jay
se mudou para a Suíça, para se tornar professor no Instituto Federal de
Tecnologia de Zurique (ETHZ, do alemão Eidgenössische
Technische Hochschule Zürich), deixando ela e o filho para trás. A Caltech
interveio para ajudar Frances a superar as dificuldades financeiras de viver
sozinha com seu bebê de um ano, em uma casa de Pasadena que ela podia pagar,
momento pelo qual ela afirma que sempre será grata. Enquanto efetivada na
Caltech, Frances poderia fazer o que mais amava: engenharia de enzimas por evolução
dirigida. Ela abandonou todos os outros projetos relacionados ao reconhecimento
de proteína-metal, para se concentrar exclusivamente em evoluir enzimas.
Em 1992, conheceu Andrew Lange, um
brilhante e carismático jovem cosmólogo, na reunião anual dos Packard Fellows, no Aquário da Baía de
Monterey. Ambos tinham recebido bolsas Packard em 1989, mas de alguma forma
nunca tinham se encontrado. De acordo com ela, foi o mais perto que chegou do
amor à primeira vista. Durante todo o ano de 1993, enquanto tentavam encontrar
oportunidades de trabalho no mesmo lugar, Andrew voava de Oakland para Pasadena
às quintas-feiras, depois de ensinar Física (às)aos calouras(os), e depois
voava de volta para dar aula na terça-feira de manhã. O filho de Frances,
James, adorava Andrew Lange. O físico experimental, por sua vez, incentivou a
curiosidade natural de James sobre o mundo mecânico, fazendo experimentos com
tudo o que se poderia encontrar nas lixeiras da Caltech. Havia muitos
osciloscópios no lixo naqueles dias e Frances conta que ainda possui tubos de
raios catódicos de vários projetos de Andrew e James. Quando a Caltech ofereceu
uma posição de professor para Andrew, em 1994, ele finalmente se mudou de
Berkeley. Em 1995, nasceu o primeiro filho do casal, William Andrew Lange, e
Joseph Inman Lange nasceu em 1997.
Não foi fácil criar três crianças
enquanto Frances e Andrew estabeleciam suas carreiras. Frances tinha muito
orgulho do sucesso de Andrew enquanto pesquisador, mas ela também estava
exausta. Ela afirma que a vida teria sido impossível sem a querida “Mama”,
Carmen, que ajudou muito cuidando das crianças.
Durante a década de 1990, Frances H.
Arnold participava de conferências locais, algumas enquanto estava grávida, mas
viajava pouco. Seu próprio trabalho, embora não tivesse tanta visibilidade como
o de Andrew, estava indo bem, e cientistas talentosas(os) de diversos lugares
foram até a Caltech para discutir a evolução dirigida com Frances e seu grupo
de estudantes. Nesse momento, o campo estava se expandindo rapidamente e os
métodos de evolução dirigida estavam se tornando amplamente adotados. Ela
aceitou alguns desafios industriais com a Proctor & Gamble, a Degussa e a
Dow Chemical, que permitiriam demonstrar o poder da evolução dirigida com
problemas reais, não apenas modelos.
Frances diz que é grata às pessoas
que passaram por sua vida e apresentaram a ela problemas interessantes e
desafiadores, além de compartilharem experiências. Ainda mais grata por terem
investido tempo e dinheiro numa tecnologia nova e na época não comprovada,
liderada por uma jovem engenheira. É importante ressaltar que Pim Stemmer, que
publicou de forma independente um artigo sobre evolução enzimática um ano após
o artigo de Frances de 1993, visitou a Caltech por algumas semanas em 1996.
Juntos, planejaram uma nova empresa startup,
a Maxygen, para comercializar a visão compartilhada de usar a evolução para
criar virtualmente qualquer proteína ou gene. Maxygen negociou uma licença para
toda a propriedade intelectual de evolução dirigida pela Caltech e Frances
serviu como uma consultora científica fundadora.
Jay Bailey morreu de câncer aos 58
anos de idade, quando seu filho James estava com 11 anos. Além disso, a vida
familiar em casa com Andrew, que era propenso à depressão, tornou-se cada vez
mais tensa. Frances pensou que uma viagem ao redor do mundo seria uma
oportunidade para todos aprenderem e se unirem. Então, ela escolheu dois
destinos sabáticos: a Austrália e a África do Sul, onde tinha amigas e amigos e
ficava longe do trabalho. Andrew, por sua vez, escolheu viajar para o País de
Gales, onde ele tinha colaboradores e uma chance de pesquisar também.
Chegaram em Alice Springs para o
inverno australiano de 2003, para a primeira aventura em família. Na terceira
noite em Oz, se hospedaram em um hotel onde dormiram em sacos de dormir bem
projetados para manter cobras e aranhas fora. Passaram as duas primeiras
semanas de seu ano sabático com o Cruzeiro do Sul no céu, o cheiro das
fogueiras e as histórias e lendas das pessoas de lá. Os dois filhos mais novos
cavavam procurando por formigas-pote-de-mel e larvas e brincavam com as
crianças locais. Frances e sua família, mais adiante, se instalaram por oito
semanas na Swinburne Tech, em Melbourne, e os pequenos Joe e William foram para
o jardim de infância e primeira série na escola pública de Hawthorne. O filho
mais velho James foi para um colégio interno para rapazes, na Scotch College,
nas proximidades. Todos os fins de semana, a família ia visitar minas de ouro e
fazendas.
Era inverno quando voltaram para uma
pequena estadia em casa e depois foram para a África, que era o próximo destino
de sua jornada, sendo que o roteiro incluía Egito, África do Sul, Namíbia e
Madagascar, seguido do Reino Unido. Frances conta que foi um conto de fadas, o
melhor ano de sua vida, ela e Andrew estavam felizes, saudáveis e encantados em
assistir seus filhos vivendo aventuras. Enquanto isso, o grupo de pesquisa de
Frances seguiu com os afazeres e ela percebeu que suas e seus estudantes
poderiam fazer mais por conta própria e que tinham desenvolvido habilidades de
liderança. A partir de então, deu às(aos) membras(os) do grupo mais liberdade,
para seguirem ainda mais suas ideias e se orientarem.
Ao voltar de viagem, no final de
2004, Frances descobriu que estava com câncer de mama, que também havia se
espalhado para os gânglios linfáticos. Passou por duas cirurgias e fez um ano e
meio de quimioterapia e radioterapia. Começou a fazer yoga para manter a saúde
física e mental e, então, conseguiu voltar a trabalhar todos os dias, o que lhe
trazia muita felicidade.
Finalmente, a Ciência começou a se
voltar para um problema que Frances estava interessada há muito tempo: a
energia alternativa, pois os preços do petróleo estavam subindo constantemente.
Desde 2000, tem-se desenvolvido o citocromo P450 para oxidar alcanos, sendo um
dos objetivos fazer organismos recombinantes que poderiam converter alcanos
gasosos em combustíveis líquidos. Em 2005, Matt Peters e Peter Meinhold
começaram o que logo se tornou Gevo Inc.,
uma das primeiras startups de
biocombustíveis no novo campo da biologia sintética. Passando por tratamento
intenso contra o câncer de mama, no entanto, Frances não estava em condições de
se dedicar muito para esse projeto, então Matt e Peter o conduziram adiante. A Gevo, que ainda continua no mercado de
negócios, faz combustível renovável a partir de biomassa.
Em 22 de janeiro de 2010, Andrew
Lange cometeu suicídio, o que chocou o mundo e deixou muitas pessoas em luto.
Frances e Andrew não viviam juntos há mais de dois anos, mas ela afirma que
teve que dar muito apoio aos três filhos, na época com idades de 17, 13 e 11
anos. Frances conta que foi um ano muito difícil. Integrantes do seu grupo de
pesquisa continuaram a cuidar uns dos outros, o grupo e o trabalho na Caltech
eram o que ainda mantinham as coisas estáveis. As amigas e os amigos de Frances
a ajudaram durante todo o tempo e ela continuamente se lembra que para ninguém
está garantido uma vida fácil, mas é possível torná-la mais fácil para as
outras pessoas.
Após um ano difícil, mas agora
recuperada do câncer, tomou a decisão consciente de voltar a correr riscos,
tanto na sua vida profissional como na pessoal. Viajou com seus filhos,
incentivou-os a escolher suas próprias aventuras e fez novas amizades fora dos
seus círculos habituais. Continuou a fazer suas atividades favoritas, como
mergulho e caminhadas, e pela primeira vez aceitou convites para dar palestras
científicas ao público em geral, o que fez Frances descobrir que tanto o
público científico como as pessoas de fora da academia respondem calorosamente
à narração de histórias e as pessoas ficam animadas em pensar que a Ciência
pode levar a um futuro melhor. Frances gosta de terminar suas conversas com um
futuro aberto e animador, cheio de perguntas para responder, ao invés de
colocar um ponto final sobre um problema.
Talvez o mais importante, sentiu-se
livre, até mesmo compelida, a perseguir novos e mais desafiadores problemas com
a sua pesquisa. Frances sempre desejou que as enzimas fizessem uma nova química
e catalisassem reações não conhecidas no mundo biológico. E fez, para várias
pessoas em seu grupo, a pergunta: você pode obter um citocromo P450 para
catalisar reações usando nitrogênio em vez de oxigênio? Então o grupo aceitou o
desafio e assim projetaram as primeiras enzimas de nitreno transferase e
carbeno transferase, em 2012. Com base nessa percepção de que a natureza está
preparada para todos os tipos de novas capacidades, Frances H. Arnold afirma
que estão explorando todo um novo mundo da química enzimática.
Atualmente, seu laboratório tem o
sentimento animado, parecido com a época dos anos 90: intenso, com um sentido
palpável de descoberta e o conhecimento de que estão lançando as bases de como
as moléculas serão feitas no futuro, usando sistemas biológicos geneticamente
codificados que incluem enzimas projetadas para fazer química inventada pela
primeira vez pelos seres humanos. Frances é grata por experimentar essa emoção
e foco pela segunda vez, novamente compartilhados com um grupo tremendamente
talentoso de jovens.
Seu trabalho com evolução enzimática
direcionada foi reconhecido pelo Prêmio Charles Stark Draper em 2011, a maior
honra que alguém da engenharia pode receber nos Estados Unidos. Ela foi a primeira e ainda é a única mulher
a receber esse prêmio, que tem sido entregue pela Academia Nacional de Engenharia
estadunidense desde 1989. Em 2013, Frances e seus dois filhos mais novos
foram recepcionados pelo presidente Barack Obama na Casa Branca, quando recebeu
a Medalha Nacional de Tecnologia e Inovação Estadunidense (seu filho James
estava servindo ao exército, por isso não participou da cerimônia). Em 2016,
recebeu o Prêmio de Tecnologia do Milênio, novamente sendo a primeira e única
mulher a receber essa honra até hoje. Com relação a isso, Frances H. Arnold
comentou:
“Eu
não me propus a ser a primeira mulher engenheira a invadir este território
rarefeito, mas fui uma das primeiras a ter a oportunidade de mostrar o que ela
podia fazer. Muitas mulheres brilhantes se juntaram a faculdades de ciência e
engenharia na minha vida, e eu prevejo que muitos mais dos mais altos
reconhecimentos das contribuições científicas das mulheres estão chegando.”1
Seu pai, William Howard Arnold,
faleceu em 2015. Ela sente muito a falta dele, mas tem certeza que ele estaria
orgulhoso agora. Seu filho do meio, William Andrew Lange, faleceu em 2016 aos
20 anos; sua curta vida foi dedicada a cuidar de macacos na África do Sul, de
crianças no Quênia e na Índia, e cheia de amizades. Ambos os Williams estão
muito presentes em seu coração, de acordo com a pesquisadora.
Em 2018, Frances H. Arnold recebeu o Prêmio Nobel de Química “pela evolução dirigida das enzimas”2. Ela dividiu o Prêmio com George P. Smith e Gregory Winter, ficando com metade do valor, enquanto que eles dividiram a outra metade.
George Smith, Frances H. Arnold e
Greg Winter na cerimônia do Prêmio Nobel, em Estocolmo (Suécia), dezembro de
2018
Fonte: Wikimedia Commons; Licença:
CC BY 2.0.
Em fevereiro de 2021, em uma
entrevista para o Chemistry &
Engineering News, Frances comentou sobre como a pandemia afetou sua vida:
“Eu
posso dizer que o ano de 2020 foi muito triste. Eu perdi minha mãe e meu irmão
este ano, meu irmão mais recentemente. Por outro lado, meu primeiro neto nasceu
em agosto. E seus pais estão trabalhando muito - um trabalhando no Laboratório
de Propulsão a Jato da NASA, ele lançou o Mars Rover da Flórida, enquanto a sua
mulher, que está na Guarda Costeira, esteve sozinha durante seis meses aqui. E
eu ganhei um neto, e eu sou a principal cuidadora deste neto, porque estou em
casa. Eu faço muitas reuniões pelo Zoom, mas posso contratar uma babá para me
ajudar. E posso passar meu tempo adorando o netinho mais lindo que você possa
imaginar.”
E então, o que acharam? Nós ficamos
infinitamente emocionadas em conhecer a história de Frances H. Arnold, que
apesar das dificuldades na vida pessoal e profissional, jamais desistiu de
lutar por seus sonhos! Sua paixão pelas Ciências e pelas aventuras com certeza
nos inspirou muito a irmos atrás dos nossos próprios anseios! Esperamos que ela
tenha inspirado vocês também!
Abraço apertados a distância, cuidem-se e até a próxima!
Gabriela Ferreira, Amanda Ribeiro da Rocha e Glaucia Pantano
Infográfico: Amanda Ribeiro da Rocha
Algumas curiosidades sobre Frances Arnold
Em um verão que passou durante a
infância em Macatawa, tiveram que persuadir a pequena Frances a não usar a
jangada que ela mesmo havia construído para levá-la até Chicago, que ficava a
quase 150 quilômetros através do Lago Michigan. Frances afirma que aprendeu a
navegar, a respeitar e a usar as forças da natureza no Lago Michigan.
Frances H. Arnold desconfia que foi
aceita na Universidade de Princeton por causa da sua redação muito convincente,
ou talvez por ela ser uma candidata muito rara se inscrevendo em Engenharia nos
anos 70, enquanto mulher. Isso e também o fato de que seu pai recebeu o título
de doutor em Física lá e conhecia o reitor da Engenharia.
No final dos anos 1970 e início dos
anos 1980, quando Frances H. Arnold viajou para a América do Sul, ela conta
amou o Peru, só não gostou das várias intoxicações alimentares que teve, mas,
de acordo com a própria, acabou aperfeiçoando sua capacidade de dormir em
qualquer lugar e reforçou seu sistema imunológico. Durante o tempo no Brasil,
Frances aprendeu um pouco de português e tomou gosto por arroz e feijão, que
eram servidos em todos os almoços no refeitório, e especialmente pela
tradicional feijoada.
No ano de 2000, Frances H. Arnold
foi eleita para a Academia Nacional de Engenharia (ANE) dos Estados Unidos, com
a mesma idade (43 anos) que seu pai tinha quando foi eleito. Quando subiu ao
palco na cerimônia de indução, em Washington D.C., seu pai se levantou e
gritou: “Essa é minha filha!”. Os dois ainda são o único par de membros
pai-filha da ANE.
Em 2019, participou da série Big Bang: A Teoria, no décimo oitavo episódio “A acumulação dos premiados” da décima segunda temporada, interpretando ela mesma juntamente a outros laureados do Nobel.
Um pouco mais sobre Frances Arnold
No dia 23 de setembro de 2020,
Frances H. Arnold fez a abertura da Reunião Magna da Academia Brasileira de
Ciências (ABC). Na ocasião, ela afirmou: “O que não sabemos fazer, o que eu
enfrentei no passado e ainda hoje, é que não sabemos compor, de novo, o DNA que
produza novas proteínas. Não sabemos as sequências que fazem surgir essa
maravilhosa música da vida, como uma sinfonia de Beethoven, composta por um
algoritmo incrível que é o da evolução”. Uma das autoras desse texto, Gabriela,
participou da conferência e ficou ainda mais encantada pela Frances! Mais
detalhes sobre a palestra estão disponíveis, em português, em: http://www.abc.org.br/2020/10/01/frances-arnold-ganhadora-do-nobel-abriu-reuniao-magna-da-abc-2020/. Acesso em: 27 jun. 21.
No site oficial do Prêmio Nobel há muitos arquivos
audiovisuais de Frances H. Arnold, sendo todas as mídias em inglês.
O seu diploma de laureada com o Nobel pode ser visto em:
<https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2018/arnold/diploma/>.
Também há uma galeria de fotos da Frances no link: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2018/arnold/photo-gallery/>. Na terceira foto é possível
vê-la conversando com Donna Strickland (Prêmio Nobel de Física 2018), nós
contamos a história dela na semana passada, vale muito a pena conferir!
A palestra de Frances H. Arnold após ser laureada com o
Prêmio Nobel pode ser assistida em: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2018/arnold/lecture/>.
O discurso de Frances durante o banquete do Prêmio Nobel
está disponível em: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2018/arnold/speech/>. No brinde, vemos o senso de
humor e a bela mensagem inspiradora sobre as Ciências que a pesquisadora tem a
nos dizer.
Algumas entrevistas dadas por ela podem ser acessadas em:
<https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2018/arnold/interview/>.
Acessos em: 27 jun. 21.
O site oficial do grupo de pesquisa de Frances H. Arnold está disponível em: <http://fhalab.caltech.edu/>. Acesso em: 27 jun. 21.
A página da pesquisadora no site da Caltech pode ser
acessada em: <http://cce.caltech.edu/people/frances-h-arnold>. Acesso em: 27 jun. 21.
THE NOBEL PRIZE. Frances H. Arnold - Nobel Prize in
Chemistry 2018. Women Who Changed
Science, s. d. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/womenwhochangedscience/stories/frances-arnold>. Acesso em: 27 jun. 21.
Referências
JARVIS, L. M. Podcast: Nobel laureates Frances Arnold and
Jennifer Doudna on prizes, pandemics, and Jimmy Page, 2021. Disponível em: <https://cen.acs.org/people/Podcast-Nobel-laureates-Frances-Arnold-and-Jennifer-Doudna-on-prizes-pandemics-and-Jimmy-Page/99/web/2021/02>.
Acesso em: 23 jun. 21.
THE NOBEL PRIZE. Frances
H. Arnold Biographical, c2021. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2018/arnold/biographical/>.
Acesso em: 23 jun. 21.
THE NOBEL PRIZE. Frances
H. Arnold Facts, c2021. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2018/arnold/facts/>.
Acesso em: 23 jun. 21.
THE NOBEL PRIZE. The Nobel Prize in Chemistry 2018, c2021. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2018/summary/>. Acesso em: 23 jun. 21.
1Texto original: “I did not set out to be the first female engineer to break into this rarefied territory, but I was one of the first to be given the chance to show what she could do. Many brilliant women have joined science and engineering faculties in my lifetime, and I predict that many more of the highest recognitions of women’s scientific contributions are coming”.
2Texto original: “for the directed evolution of enzymes”.
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