Malala Yousafzai, Nobel da Paz, 2014

Bom dia time, tudo bem? 

Hoje, como não pode ser diferente, nossa história é muito especial e tem um breve capítulo aqui no Brasil! Nós vamos desbravar uma história que é recente e ao mesmo tempo traz uma cultural bem diferente da brasileira. Nossa personagem principal, hoje, é uma ativista paquistanesa, sobrevivente da terrível violência Talibã, que luta pelo direito à educação das meninas.

Vamos falar de Malala Yousafzai, ganhadora do Nobel da Paz no ano de 2014!


Malala Yousafzai: a pessoa mais nova a receber o prêmio Nobel.

Malala Yousafzai, jovem mulher ativista, nasceu em 1997, em Swat, uma aldeia no Paquistão. Aqui destacamos que essa aldeia foi um destino popular por ter um cenário semelhante aos Alpes, porém, se tornou uma fortaleza para o Talibã em 2007. Talibã: é um movimento fundamentalista islâmico, nacionalista que se difundiu no Paquistão, a partir de 1994. Efetivamente, governou cerca de 75% do Afeganistão entre 1996 e 2001. Foi oficialmente considerado uma organização terrorista pela Rússia, EUA, Canadá, Emirados Árabes Unidos, União Europeia e Cazaquistão.

Malala não sofreu por ter nascida menina, mas o seu nascimento não foi comemorado pela redondeza social, pois em sua região é comum comemorar somente o nascimento de meninos, onde os vizinho parabenizam os pais. Todavia, o pai de Malala, Ziauddin Yousafzai, estava determinado a dar a ela as mesmas oportunidades que um menino teria. Para ter noção, as meninas tem a obrigação de se casar e ter filhos, cedo, como aos 14 anos. Todavia, Malala teve apoio fundamental de seus pais e isso não aconteceu. Além do mais, mesmo a educação para meninas ser proibida pelo Talibã, o pai de Malala, como era professor e dirigia uma escola, incentivava Malala a gostar de física, literatura, história e política, e a ter um pensamento crítico em relação a justiça do mundo. 

Ainda aos 10 anos, em 2007, Malala observou o Talibã dominar seu território e espalhar seu terror. “Os extremistas baniram muitas coisas - como ter uma televisão e tocar música - e aplicaram punições severas para aqueles que desafiaram suas ordens. E eles disseram que as meninas não podiam mais ir à escola”, sendo uma dessas escolas a que Malala estudava e o seu pai trabalhava. Você sabe o que aconteceu com as escolas que se recusaram e não fecharam? Elas foram dinamitadas!!!

Em seu blog de rede estatal britânica, Malala com 11 anos, em 2008, começou a escrever, inicialmente sob o pseudônimo de Gul Makai, relatando a sua vida sob o regime do Talibã e defendendo o direito das meninas à educação; o direito de elas irem às escolas. Aos seus 12 anos, Malala escondia o seu uniforme na mochila para não ser atacada e espancada pelo movimento Talibã no caminho para à escola. “Nessa época, foi registrado em um documentário feito pelo New York Time, que Malala afirmava que queria ser médica e, para isso, iria continuar estudando em qualquer outro lugar”. Seu pseudônimo não durou muitos meses, e logo foi convidada e passou a conceder várias entrevistas a emissoras de TV e jornais. Com uma luta travada, as escritas e as entrevistas abriram novos caminhos para Malala, porém com a mudança veio o grande perigo de mencionar tudo e de se manter na região de origem, que apesar de aos poucos o governo ter expulsado o Talibã, ainda haviam remanescentes desse movimento fundamentalista. 

No dia 9 de outubro de 2012, aos seus 15 anos, quando Malala voltava da escola para casa, um atirador mascarado embarcou no ônibus escolar que ela estava e perguntou: “Quem é Malala?”. Ele atirou no lado esquerdo da cabeça de Malala, que acordou 10 dias depois em um hospital em Birmingham, na Inglaterra. Foi nesse momento que Malala descobriu, pelos comentários dos médicos, o que ela havia sofrido e que, ao redor do mundo, pessoas oravam pela sua recuperação.

Em fevereiro de 2013, após alguns meses de tratamento, ainda na Inglaterra, Malala obteve alta. No mês seguinte, ingressou em uma escola para meninas na cidade onde fora hospitalizada. Nesse mesmo ano, foi criado o fundo Malala, que busca angariar “[...] fundos para financiar a educação de garotas no mundo todo. No mesmo mês, ela foi considerada a pessoa mais influente do ano pela revista Time. E, no seu aniversário de 16 anos, discursou nas Nações Unidas em Nova York. Essa data passou a ser chamada de “Malala Day”, ou Dia de Malala. Ela só voltou ao Paquistão em 2018, em uma visita marcada por altas medidas de segurança. Malala continuou na luta pelos direitos das meninas de estudar, sendo reconhecida por diversos prêmios, sendo o Nobel, em 2014, junto com Kailash Satyarthi, pelo trabalho como ativista pelos direitos das crianças. 


Malala se graduou na Universidade de Oxford em junho de 2020 (Foto: Reprodução Instagram/@malala)

Malala graduou-se em Filosofia, Política e Economia em Oxford, em 2020, onde precisou comemorar a formatura a distância, pelo período pandêmico. Quando questionada sobre o que faria, Malala, em post no Instagram no dia de sua graduação, disse não saber, mas que, por enquanto, como qualquer jovem recém-formado, só queria fazer maratonas de Netflix, ler e dormir.

Neste momento, a partir de uma seleção feita pelo Educação Integral no livro Eu sou Malala: a história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã (Ed. Companhia das Letras), trazemos fragmentos e elementos da memória de Malala:

Primeiras memórias da escola: “Eu brincava no pátio da escola. Meu pai diz que mesmo antes de saber falar eu caminhava vacilante sala de aula adentro e me comportava como se fosse a professora. Algumas mulheres da equipe escolar, como a srta. Ulfat, me colocavam no colo como se eu fosse um bichinho de estimação. Aos três ou quatro anos fui colocada em turmas de crianças bem mais velhas. E ficava maravilhada ao ouvir todas as coisas que eram ensinadas. Às vezes eu imitava os gestos das professoras. Posso dizer que eu cresci em uma escola.” 

Sobre sua mãe: “Minha mãe começou a frequentar a escola aos seis anos e a abandonou com a mesma idade. Ela era uma exceção na aldeia, pois seu pai e seus irmãos incentivaram-na a estudar. Era a única menina numa classe de garotos. Carregava com orgulho a bolsa com os livros e declarava que era mais inteligente que os meninos. Mas todos os dias deixava as primas brincando em casa e as invejava. Não parecia fazer sentido frequentar a escola para depois terminar cozinhando, limpando e tendo filhos. Por isso, um dia ela vendeu os livros por nove annas, gastou o dinheiro em doces e nunca mais voltou a estudar.”

Antes do Talibã: “Eu lia livros como Ana Karênina, do Leon Tolstói, e os romances de Jane Austen. Confiava nas palavras de meu pai: ‘Malala é livre como um pássaro’. Quando ouvia as histórias sobre atrocidades que aconteciam no Afeganistão, eu celebrava o Swat [sua aldeia no Paquistão]. Aqui uma menina pode ir à escola, eu dizia. Mas o Talibã estava logo ali, na esquina, e era pachtum como nós. Para mim, o vale era um lugar ensolarado. Não pude ver as nuvens se juntando atrás das montanhas. Meu pai costumava falar: ‘Vou proteger sua liberdade, Malala. Pode continuar sonhando’.”

Interesse por política: “Desde pequena me interesso por política. Ficava sentada nos joelhos de meu pai, ouvindo tudo que ele e seus amigos discutiam. Mas me preocupava mais com as coisas próximas de nossa casa – com a nossa rua, para ser exata.”

Após a chegada do Talibã: “Foi a escola que me fez seguir em frente naqueles dias sombrios. Quando andava na rua, parecia-me que cada homem com quem eu cruzava podia ser um talibã. Escondíamos nossas bolsas e nossos livros sob o xale. Meu pai sempre dizia que a coisa mais bonita nas aldeias, toda manhã, era ver as crianças usando uniformes escolares. Mas agora tínhamos medo de usá-los.”

Falsa trégua: “Naquele inverno nevou como sempre, mas não havia a mesma alegria em fazer bonecos de neve. Com o frio, os talibãs desapareceram nas montanhas, mas sabíamos que retornariam e não fazíamos ideia do que teríamos pela frente. Acreditávamos que a escola voltaria a funcionar. O Talibã podia tomar nossas canetas e nossos livros, mas não podia impedir mentes de pensar.”

Sobre sua luta: “Quando cruzamos o desfiladeiro Malakand, vi uma mocinha vendendo laranjas. Para cada laranja que vendia, ela fazia uma marquinha com lápis num pedaço de papel, pois não sabia ler nem escrever. Tirei uma foto e jurei que faria tudo o que estivesse a meu alcance para ajudar a educar garotas como ela. Era essa a guerra que eu ia travar.”

Sobre o medo: “Não falei nada para meus pais, mas, toda vez que saía, tinha medo de que talibãs armados me saltassem à frente ou que jogassem ácido no meu rosto, como tinham feito com diversas mulheres no Afeganistão. Sentia medo principalmente dos degraus que levavam até nossa rua, onde os meninos costumavam ficar. Às vezes, pensava ouvir passos atrás de mim ou imaginava figuras se esgueirando nas sombras.”

O atentado: “Algumas pessoas escolhem bons caminhos e algumas escolhem caminhos ruins. A bala atirada por um homem me atingiu, fez meu cérebro inchar, roubou a minha audição e cortou o nervo do lado esquerdo de meu rosto em menos de um segundo. E depois desse segundo, milhões de pessoas rezaram por mim, por minha vida, e médicos talentosos me deram meu próprio corpo de volta. Eu era uma boa menina. Meu coração tinha apenas o desejo de ajudar as pessoas. Não fiz nada com o objetivo de receber prêmios ou dinheiro. Sempre rezei a Deus: ‘Quero ajudar as pessoas. Por favor, me ajude a fazer isso’.”

Sobre seu pai: “Meu pai passa grande parte do tempo indo a conferências sobre educação. Sei que para ele é estranho o fato de que agora as pessoas queiram ouvi-lo por minha causa, e não o contrário. Eu costumava ser conhecida como a filha dele; agora ele é conhecido como meu pai. Quando foi à França para receber um prêmio em meu nome, disse à plateia: ‘No meu lado do mundo, a maior parte das pessoas é conhecida pelos filhos que têm. Sou um dos poucos pais sortudos conhecidos pela filha que têm’.”

Sobre voltar ao Paquistão: “Durante o último ano estive em muitos lugares, mas meu vale continua sendo o mais lindo do mundo. Não sei quando vou vê-lo de novo, mas sei que vou. Eu me pergunto o que aconteceu com o caroço de manga que plantei no nosso jardim no Ramadã. Imagino se alguém o está regando, para que um dia as futuras gerações possam apreciar a fruta.”

A Malala de hoje: “Meu mundo mudou muito. Nas prateleiras da nossa sala há prêmios do mundo inteiro – Estados Unidos, Índia, França, Espanha, Itália, Áustria, e muitos outros lugares. Fui até indicada para o prêmio Nobel da Paz, a pessoa mais jovem de todos os tempos. Quando ganhava prêmios pelo meu trabalho na escola, eu ficava feliz, pois trabalhava duro para merecê-los. Mas esses outros prêmios são diferentes. Sou grata por eles, mas só me lembram quanto ainda falta fazer para atingir a meta de educação para todo menino e toda menina. Não quero ser lembrada como a “menina que foi baleada pelo Talibã”, mas como “a menina que lutou pela educação”. Esta é a causa para a qual estou dedicando minha vida.”

Por Rene Miguel e Everton Bedin

Referências

PAIVA, T., Quem é Malala Yousafzai? A prêmio Nobel em suas próprias palavras. Centro De Referência Em Educação Integral, 2018. Disponível em: https://bit.ly/3g0E3hl. Acessado em: 30 mai. 2021. 

MARASCIULO M., Malala Yousafzai: 7 pontos para entender a história da jovem ativista. Em 2020. Disponível em: https://glo.bo/3vHG6xk. Acessado em: 31 mai. 2021.

Comentários