TU YOUYOU, PRÊMIO NOBEL DE FISIOLOGIA OU MEDICINA, 2015

       Tu Youyou, a primeira mulher chinesa a ganhar o Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina

Tu Youyou foi a grande responsável pela pesquisa que levou ao desenvolvimento do fármaco capaz de combater a malária, a artemisinina, que salvou milhões de pessoas mundo afora. Mas, não foi apenas estudando e pesquisando dentro do laboratório que Tu encontrou a melhor solução contra a doença infecciosa com maior impacto no mundo. Na procura de potenciais fármacos contra a malária, ela foi enviada para a região chinesa onde a doença era endêmica, a ilha de Hainan. A pesquisadora então, buscou nos conhecimentos produzidos pela medicina tradicional chinesa e nas receitas populares, plantas medicinais tradicionais utilizadas por povos antigos como remédio contra a febre, um dos sintomas decorrentes da malária. Tu e sua equipe de pesquisa examinaram mais de 2 mil tratamentos tradicionais.

Em 1971, a pesquisadora isolou o princípio ativo a partir da planta Artemisia annua e começou a utilizá-lo como tratamento para a malária. Anos mais tarde, sintetizou um derivado mais potente, conhecido como dihydroartemisinina. Seus trabalhos posteriores, foram voltados à utilização de artemisinina e seus derivados em outras doenças.

Parte do conhecimento que a fez ser o grande nome da fundação Nobel em 2015, foi buscado em manuscritos de textos médicos chineses com mais de 1.300 anos de medicina tradicional chinesa, nos mostrando a importância de valorizar e respeitar os múltiplos e variados saberes locais no processo de produção de conhecimento, e os benefícios para o desenvolvimento científico quando estes diferentes conhecimentos são considerados. 

O fato da malária ser uma doença que acomete principalmente as regiões mais vulneráveis do mundo, e ser negligenciada pelas indústrias farmacêuticas,  mostra o impacto do trabalho de Tu YouYou, o que o torna merecedor de toda a nossa admiração. 


HISTÓRIA DE VIDA

Tu Youyou nasceu em 30 de dezembro de 1930 em Ningbo, na província de Zhejiang, estudou e realizou sua pesquisa exclusivamente na China. Aos 16 anos, enquanto ainda cursava o ensino médio, teve que interromper seus estudos pois foi acometida por tuberculose, algo que a inspirou mais tarde a fazer pesquisas na área da medicina a fim de encontrar cura para doenças como a que a afligiu. 

Parte desse seu desejo, só foi possível graças ao incentivo e entendimento de seus pais com relação a importância da educação e como principal prioridade de sua família.

Graduou-se em farmácia em 1955 na Faculdade de Medicina da Universidade de Pequim, e desde 1965, trabalha como professora no Instituto de Matéria Médica da Academia Chinesa de Medicina Tradicional Chinesa, onde assumiu a posição mais alta de pesquisadora na China. 


Tu Youyou e seu tutor Lou Zhicen na Academia de Ciências Médicas Chinesas, na China em 1950

Fonte: Wikimedia Commons. Domínio Público.

Ainda no início de sua carreira como pesquisadora, focou seus estudos em duas ervas que tradicionalmente eram utilizadas para o tratamento de esquistossomose e febres, Lobelia chinensis, e Radix stellariae, respectivamente. Posteriormente, associou seus conhecimentos de medicamentos tradicionais chineses à formação médica ocidental que recebeu do programa de treinamento em teoria e prática médica chinesa organizado pelo Ministério da Saúde para profissionais com formação médica (moderna) ocidental. 

Sua procura por um medicamento que combatesse a malária iniciou-se quando o governo chines a nomeou como chefe de pesquisa, com o objetivo de ajudar o governo do Vietnã do Norte a encontrar uma forma de vencer a epidemia de malária que se alastrava por aquele país durante a Guerra do Vietnã, assim como por algumas regiões provincianas do sul da China, como a ilha de Hainan.

Em 1971, Tu juntamente com sua equipe de pesquisa encontraram um extrato da planta Artemisia annua, cujo nome comum é absinto doce, que foi altamente eficaz na supressão de parasitas de Plasmodium falciparum nos testes em camundongos e macacos. A pesquisadora então, aperfeiçoou uma metodologia para aumentar a eficácia do extrato e reduzir sua toxicidade. No entanto, enquanto ela e sua equipe produziam os ensaios clínicos, muitos do seu laboratório, inclusive a própria Tu, ficaram doentes em razão da exposição a solventes tóxicos.

Em 1972, a pesquisadora obteve a artemisinina na forma de substância farmacêutica pura, e descobriu sua estrutura química. Por meio de outros experimentos, produziu a dihidroartemisinina e os testes seguintes revelaram se tratar de uma outra substância altamente eficaz para o tratamento anti-malárico em todo o mundo. Nas últimas décadas, mais de duzentos milhões de pacientes com malária receberam terapias combinadas com artemisinina ou artemisinina.

Em 2001, ela foi promovida a conselheira acadêmica para doutorandos e atualmente, é cientista Chefe desta Academia.

Fonte: Trabalho Próprio; CC BY-SA 4.0

Tu é casada com o engenherio metalurgico Li Tingzhao e é mãe de duas filhas. Ao falar dos desafios de conciliar a maternidade com a carreira científica, ela revela que ao aceitar a enorme tarefa frente a pesquisa para vencer a malária, contou com a rede de apoio dos pais. Sua filha mais nova, com apenas um ano de idade, permaneceu aos cuidados dos avós, enquanto a filha mais velha, aos quatro anos, frequentou uma creche em tempo integral e morou com a família de seu professor enquanto Tu estava fora de casa para o projeto. Segundo Tu Youyou, ao retornar para a casa dos pais, três anos após a separação das filhas, conta que a filha mais nova não a reconheceu.

Dentre as diversas premiações que ganhou, estão o Prêmio para o Progresso na Pesquisa Antimalárica Alcançado pela Equipe Científica do Projeto 523 pela Conferência Científica Nacional da China em 1978, o Prêmio de Invenção (como a primeira inventora) pelo Congresso Nacional de Ciência e Tecnologia da China em 1982, o Prêmio para Jovens e Especialistas de Meia Idade com Contribuições Notáveis pelo Conselho de Estado da China em 1984, o mais alto prêmio honorário da Academia Chinesa de Medicina Tradicional Chinesa em 1992, o Prêmio Lasker-DeBakey de Pesquisa Médica Clínica 2011, o Prêmio Warren Alpert Foundation 2015 e por fim, o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2015.


PORQUE GANHOU O NOBEL

Tu Youyou foi contemplada com o Nobel por suas descobertas sobre uma nova terapia contra a malária. O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2015, foi compartilhado com o parasitologista irlandês William Campbell e o microbiologista japonês Ōmura Satoshi. Ela é a primeira cientista chinesa a receber o Prêmio Nobel em uma categoria científica e o fez sem doutorado, diploma de medicina ou treinamento no exterior.


Por Jessica Jamal, Alana D’Ornelas e Clarice D. B. Amaral.


PARA SABER MAIS

Tu Youyou fez história ao descobrir um medicamento capaz de salvar a vida de milhões de pessoas. Esse vídeo do Youtube explica sobre a história da médica chinesa e como suas pesquisas científicas impactam a vida das pessoas no mundo.

A terapia com a artemisinina agrega muito ao tratamento da malária. Esse artigo dispõe sobre o mecanismo de ação desse princípio ativo e de outros utilizados na doença. Essa notícia publicada na Revista Fapesp contextualiza o fármaco e a situação epidemiológica da malária no Brasil.

Malária é uma das doenças que mais matam no mundo todo, sendo um enorme problema de saúde pública. Há países africanos com altíssima incidência. A Organização Mundial da Saúde reivindica ações para o combate dessa doença, que é evitável e tratável, com o cumprimento das metas globais de malária, que podem ser acessadas aqui.


REFERÊNCIAS

Tu Youyou. Facts. The Nobel Prize. Disponível em <https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/2015/tu/facts/>Acesso em 19 mai 2021.

Tu You-You: Uma vida dedicada à descoberta de medicamentos para MALÁRIA

Tu Youyou: Uma vida dedicada à descoberta de medicamentos para a malária. CiênciaWEB IFSC e IEA/USP. Disponível em: <http://usp.br/cienciaweb/2020/07/tu-you-you-uma-vida-dedicada-a-descoberta-de-medicamentos-para-malaria/>. Acesso em 19 mai 2021.

Corrida contra a malária. Pesquisa FAPESP. Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/2015/11/17/corrida-contra-a-malaria/>. Acesso em 19 mai 2021.


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