Nadia Murad, Prêmio Nobel da Paz, 2018

 Nadia Murad - Prêmio Nobel da Paz

Bom dia time, tudo bem? 

Hoje, temos uma história difícil de acreditar e de relatar, ainda mais porque é recente; aconteceu nos tempos atuais. Hoje, falaremos de Nadia Murad. Nossa protagonista nasceu no Iraque, na cidade de Kawjū (Kocho), em 1993. Nadia, atualmente com 28 anos, pertence a minoria étnica e religiosa Yazidi.

Figura 1: Prêmio Nobel da Paz de 2018 - Foto: Christian Lutz/AP

As pessoas que pertencem ao Yazidi, e não “aceitam” a conversão para o Islã, são consideradas pelo Estado Islâmico (EI) como infiéis, diferente dos judeus e dos cristãos, que existe uma proximidade religiosa. Aí começa a história, porque esse pretexto religioso foi utilizado, e se deu como pano de fundo, para sancionar a escravidão, a escravidão sexual e forçar jovens a se juntarem ao grupo do EI.

Nadia tinha grandes sonhos como ser professora de história, após receber permissão para estudar, ou até abrir o seu próprio salão de beleza. Porém, algo terrível chegou à cidade de Sinjar, mudando a vida de todos. Nadia relata que de início, eles (Milícia Terrorista do EI) rodearam a aldeia por alguns dias, mas não entraram. O povo tentou pedir ajuda por telefone e outros meios, pois sabia que algo horrível iria acontecer. A ajuda não chegou, nem do Iraque nem de outras partes. Então, eles deram duas opções ao povo: a conversão ao Islã ou a morte.

Em 15 de agosto de 2014, aos 21 anos, a vida de Nadia virou do avesso. Ataques da Milicia Terrorista do EI iniciaram e, ao longo de uma hora, mais de 300 homens, mulheres e crianças foram exterminados no vilarejo. A Milicia Terrorista do EI transformou o local num verdadeiro mar de sangue. Ali, seis dos nove irmãos de Nadia foram atacados porque se negaram a se converter ao Islamismo. Dentre outras atrocidades, a jovem Nadia foi forçada a testemunhar a morte da própria mãe. A Milicia Terrorista do EI separou os homens, cerca de 700, levando-os para fora da aldeia... e começaram a atirar neles. Nove irmãos de Nadia estavam entre eles; três ficaram feridos, mas escaparam.

Os homens e as mulheres de maior idade foram separados e assassinados, isso incluiu a família de Nadia. As meninas e as mulheres sobreviventes, incluindo Nadia, foram levadas para Mosul, no Iraque, a cidade de maior controle pelo EI. Lá elas foram comercializadas como escravas sexuais. Segundo Nadia, no caminho eles tocavam os seios das mulheres e esfregavam as barbas nos rostos delas. Elas não sabiam o que eles fariam com elas; pensavam até na morte. As mulheres sabiam que nada de bom iria ocorrer, pois a Milicia já havia matado os homens e as mulheres com maior idade, e sequestrado os meninos. Para termos mais noção da situação sobre esse povo com relação ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL), mais de 5.200 mulheres Yazidi foram traficadas pelo ISIL em 2014, e cerca de 5.000 homens foram mortos.

Durante três meses, Nadia foi prisioneira e sofreu com a escravidão sexual, onde foi espancada, torturada e estuprada pelos jihadistas; foi comprada e vendida diversas vezes, de modo que, na sua primeira tentativa de fuga, através de uma janela, um guarda costas a segurou. Após o fracasso, Nadia teve como resposta a punição, seguindo as regras do EI, de um estupro coletivo por todos os homens do complexo. Em novembro daquele mesmo ano – três meses após –, Nadia foi obrigada a tomar banho para a futura venda. Nessa ocasião, ela encontrou uma porta destrancada e conseguiu fugir, passando por diversos lugares, sendo o primeiro por uma família muçulmana que não tinha relações com o Islã. Essa família forneceu a Nadia um véu negro, documento de identidade falso e também a levaram até a fronteira.

Em 2015, Nadia participou de refugiados para sobreviventes do ISIL, na Alemanhã. No mês de dezembro desse mesmo ano, Nadia foi convidada a falar sobre o tráfico de pessoas diante do Conselho de Segurança da ONU. A partir de sua fala, Nadia teve inúmeros pedidos de entrevistas, nos quais contou seu testemunho sobre o sofrimento contínuo do povo Yazidi e os horrores sobre o EI. No ano seguinte, em 2016, a ONU nomeou Nadia Murad como sua Embaixadora da Boa Vontade para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico Humano.

 

Figura 2: Nadia Murad: o Papa no Iraque, sinal de esperança para todas as minorias.

Nadia escreveu um livro de memórias sobre a sua captura e a sua fuga: A Última Garota: Minha História de Cativeiro e Minha Luta Contra o Estado Islâmico. Além disso, Nadia fundou uma organização que defende os direitos das mulheres e das minorias, ajudando a reconstruir as comunidades minoritárias que enfrentam crises. A motivação do prêmio veio pelos seus esforços para acabar com o uso da violência sexual como arma de guerra e conflito armado.
 
Nossa protagonista, que iniciou a sua história com o sonho de ser professora ou de ter o seu salão de beleza, encontrou rumos muito conturbados, sofridos e indesejados. Hoje, Nadia se encontra como a primeira Embaixadora da Boa Vontade para a Dignidade dos Sobreviventes de Tráfico Humano das Nações Unidas, como uma laureda com o Prêmio Nobel da Paz, bem como com o Prêmio de Direitos Humanos Vaclav Havel do Conselho da Europa, com o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento e, principalmente, como uma sobrevivente de uma das maiores atrocidades que uma mulher pode sofrer. Nadia, atualmente, juntamente com a sua equipe da Nadias Initiative, se dedica a reconstruir comunidades em crise e advogar globalmente por sobreviventes de violência sexual; em paralelo, Nadia está focada no redesenvolvimento sustentável da terra natal Yazidi em Sinjar, Iraque, onde cresceu.

Figura 3: Site: Iniciativa de Nádia. https://www.nadiasinitiative.org/ 
 

Por Rene Miguel e Everton Bedin


REFERÊNCIAS
1. Britannica, T. Editors of Encyclopaedia (2021, 1 de fevereiro). Nadia Murad, Ativista Iraquiana De Direitos Humanos. Encyclopedia Britannica. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/kidnapping

2. Nadia Murad - Biográfica. NobelPrize.org. Divulgação do Prêmio Nobel AB 2021. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/peace/2018/murad/biographical/ 

3. Nadia Murad: a luta de uma mulher contra o "Estado Islâmico". Made for minds. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/nadia-murad-a-luta-de-uma-mulher-contra-o-estado-isl%C3%A2mico/a-45777228

4. Nadia Murad, a vencedora do Prêmio Nobel da Paz que superou histórico de vítima de 'jihad sexual'. BBC NEWS BRASIL. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-45757310


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