OLGA TOKARCZUK, PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA, 2018

 Olga Tokarczuk: escritora consagrada que escreve com maestria sobre temas que vão do realismo mágico à temática feminista.


HISTÓRIA DE VIDA

Olga Tokarczuk nasceu na Polônia, no pequeno município de Sulechiow, em 1962. Ela é a filha mais velha de um casal de professores que teve duas filhas. Anos antes do nascimento de Olga, seus pais haviam ido para um local chamado de “Territórios Recuperados”, atribuídos pelo Reich alemão à Polônia, após a Segunda Guerra Mundial. Seus pais trabalhavam na Universidade do Povo, um local destinado ao ensino de pessoas do campo e de cidades pequenas. Olga passou boa parte de seu tempo na infância acompanhando os pais na universidade. Ia às aulas que eles ministravam e aos ensaios de coral e de dança ofertados por outros professores, participava de shows, passeios e assembleias. Foi, por isso, uma criança bastante livre e este fato a tornou muito curiosa sobre o mundo. 

O local onde Tokarczuk vivia era rodeado por natureza. A menina aproveitava para fazer longas caminhadas, visitar os lagos e parques da região, bem como desvendar paisagens desconhecidas. Costumava ir também até as margens do grande rio que trafega pelo território polonês, o rio Oder, contemplar sua grandeza e beleza. Desde pequena, Tokarczuk era uma observadora de pessoas, dos animais e da vida ao seu redor, característica que a acompanha até os dias de hoje. 

Olga cresceu em torno dos livros na biblioteca em que seu pai era o diretor responsável. Ela relata ter aprendido a ler sozinha, um dos motivos era se estimular a correlacionar canções que sabia com a escrita. Com o tempo, lia diversos livros de arte e até mesmo enciclopédias. Teve uma forte paixão pela ficção, em especial pela mitologia, a qual dedicou-se anos de sua vida à leitura e ao desbravamento dessas narrativas. Gostava muito da leitura de fábulas e conto de fadas de várias culturas, principalmente pelo aspecto imaginativo e livre que eles continham.

Ainda na infância, Tokarczuk e sua família se mudaram para o sul da Polônia, pois seus pais tiveram uma oferta de trabalho como professores em uma escola regular. Foi nessa época que ela começou a desenvolver apreço pelas ciências, como astronomia e física, e mergulhou nos livros ficcionais científicos. Com doze anos, Olga iniciou a escrita de seu primeiro romance, o qual nunca foi terminado, sobre a história de uma família de bruxos nômades. Ficou fascinada pela ideia de criar um mundo inteiramente novo e, a partir de então, começou a escrever com frequência pequenas histórias, ficções e sobre suas percepções de vida. Foi publicada pela primeira em uma revista literária jovem o que deixou muito orgulhosa do feito.

Olga notou, em seus últimos anos de formação primária, o quanto a literatura tinha um poder grandioso que ia além do prazer da leitura: ela proporciona conhecer e experimentar mundos que nunca conseguiria visitar ou ver com os próprios olhos. Ao ler, ela era capaz de descobrir e moldar a sua própria identidade.


“Viajar no tempo e no espaço foi incrivelmente fácil - bastava deitar no tapete ou no sofá da sala e, em seguida, percorrer os caminhos das páginas impressas, para encontrar outro eu ali, uma versão diferente da minha própria.”

Olga Tokarczuk


Olga e sua irmã costumavam passar as férias com os avós maternos no centro da Polônia. A casa ficava em uma região campestre e as meninas aproveitavam para tomar banho nos rios e colher cogumelos. Como era de se esperar, Olga aproveitava também para emprestar livros da biblioteca local, que contava com todos os clássicos da literatura americana. Os avós sempre contavam histórias do passado da região para Olga, que também se perdia em fotografias antigas e objetos históricos. Era um lugar em que sofreu uma ruptura após a Segunda Guerra Mundial, com os alemães levando muito dos significados e vidas dali. Olga eternizou suas lembranças e recordações dessa fase de sua vida no romance “Primeval and other times” (livro sem tradução para o português).


Retrato de Olga Tokarczuk.

Fonte: trabalho próprio; CC BY-SA 3.0

Na época do colégio, Olga persistia em seu hábito de diferentes leituras e  estudos, em um desses momentos, ficou fascinada pela biologia, chegando até mesmo a cogitar cursá-la na universidade. Em 1980, mudou-se para Varsóvia para cursar ensino superior. Era um período de agitação social, com problemas como a escassez de alimentos e a crise e a população estava em greve contra o regime comunista. O regime fechou universidades, fazia toque de recolher e patrulhas na cidade. Olga fazia voluntariado ajudando pacientes doentes, afetados bruscamente pela crise política e social. Foi uma época que afetou profundamente Olga, e as marcas a fizeram parar de escrever. 

Por causa do contato com as pessoas passando por dificuldades, se aprofundou em estudos de psicologia, em especial na temática psicanalítica. Decidiu se especializar em psicologia clínica em seu terceiro ano de faculdade. Essa área a fez ampliar ainda mais a sua percepção das diferentes formas de enxergar e de coexistir no mundo.


“Estudar psicologia e entrar em contato com a psicoterapia me deu a crença de que vivemos em um mundo onde muitos pontos de vista coexistem. Esse tipo de relativismo mostra o mundo como uma história complexa e multifacetada que, vista de vários pontos de vista, parece infinitamente rica e é um desafio para nosso intelecto e nossa psique.”

Olga Tokarczuk


Após o término da faculdade, Olga deixou Varsóvia e mudou-se para Walbrzych, na baixa Silésia, para trabalhar na área da psiquiatria. Casou-se e teve um filho. Voltou a escrever com o tempo, porém esgotou-se com o trabalho e decidiu passar um tempo em Londres. Após alguns meses, voltou para casa com muita inspiração e energizada. Teve contato com ideais e livros feministas e vários outros assuntos. Um ano após ter retornado, teve seu primeiro romance escrito, o “A Jornada do Povo do Livro”.

Até encontrar uma pequena editora disposta a publicar seu livro, Olga passou por dificuldades. A época era de mudanças: a economia de livre mercado capitalista tomava o lugar da economia socialista. Grandes editoras estatais faliram e as demais, que antes eram ilegais, ressurgiam. Num primeiro momento, houve uma enorme demanda pelas traduções de livros do inglês que até então eram proibidos de circularem. A Associação Polonesa de Editores de Livros concedeu ao livro de Olga o prêmio de melhor estreia. Devido a isso, foi mais fácil encontrar editoras que desejassem publicar os seus próximos livros. Seu segundo romance foi publicado pela editora estatal e muito famosa, a PWN. O seu terceiro romance, “Primeval and Other Times” (aquele escrito com as recordações dos seus períodos de férias na infância), foi selecionado para concorrer ao prêmio literário Nike, o mais importante da Polônia. Com a sua boa estreia como escritora, Olga começou a considerar a escrita literária como profissão. Até então, ela havia resistido em aceitar plenamente esse fato, pois acreditava ser apenas um “passatempo vergonhoso”. 

Tempos depois, Olga comprou uma casa no vale polonês Klodzko, onde se cercou de natureza e aprofundou seu interesse por ecologia. Escreveu “House of Day, House of Night”, um romance que influenciou seus trabalhos posteriores. Como características marcantes, está a tentativa dos personagens de criar raízes nos lugares e quanto isso pode ser conflituoso, devido a ambiguidade na busca por segurança e estabilidade se opondo a curiosidade de conhecer o mundo. Olga realizou várias viagens, nas quais teve que conviver com diferenças culturais, saudades de casa e conflitos de idiomas. Isso também a inspirou a escrever, surgindo o romance “Vôos” como fruto. Terminou o seu casamento e precisou se mudar de casa, mas continuou morando na Polônia.

Olga se empenhou na escrita da “Escrituras de Jacó”. Levou em torno de sete anos em meio a vastas pesquisas históricas, duas viagens internacionais para percorrer os caminhos feitos pelos personagens, análise de documentos e coleta de detalhes. Resultou em um romance épico de mais de 900 páginas dividido em sete livros.

Nos últimos anos, Olga reside em Wrocław e no vale Kłodzko. Continua sempre a ler e tira muita inspiração das produções cinematográficas. Não viaja mais como antigamente, tornou-se mais estável e introspectiva. Não pretende parar de escrever, sua grande paixão, que por sinal executa com maestria.

POR QUE GANHOU O NOBEL?

Olga Tokarczuk foi a 15º laureada com o prêmio Nobel de Literatura, em 2018. Considerada a maior romancista atualmente da Polônia, tem escrita talentosíssima, mistura com brilhantismo fantasia, realidade e humor.

Por Alana D’Ornelas, Jessica Jamal e Clarice D.B. Amaral



PARA SABER MAIS

Antes de ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, Olga Tokarczuk não era tão conhecida no Brasil. Recentemente, teve alguns de seus livros traduzidos para o português. O romance “Sobre os Ossos dos Mortos” foi um deles. Ele discute temas como a civilização e o mundo natural, uma verdadeira reflexão sobre a condição humana. Vale a pena a leitura desta obra para ter contato com essa autora incrível.

Tokarczuk palestrou após ganhar o Prêmio Nobel de Literatura em 2018. Sua fala (em polonês, sua língua materna) está disponível no canal do Youtube Nobel Prize.

A revista Galileu fez uma matéria com um breve resumo de algumas das obras de Olga, para os leitores se sentirem estimulados a lerem. A própria escritora disse que uma forma de conhecê-la é por meio da leitura de seus livros. Caso você tenha ficado curioso em conhecer mais a respeito da laureada de hoje, uma ótima pedida é mergulhar em suas obras!


REFERÊNCIAS

Olga Tokarczuk. Biographical. The Nobel Prize. Disponível em:

https://www.nobelprize.org/prizes/literature/2018/tokarczuk/biographical/ Acesso em: 03 jul 2021.

Olga Tokarczuk, um Prêmio Nobel além da literatura. El País. Disponível em: https://elpais.com/cultura/2019/10/10/actualidad/1570713674_872594.html?rel=arc_articulo#1625415785322 Acesso em: 03 jul 2021.


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