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Emmanuelle Charpentier: a cientista mãos de tesoura
Olá a todas e todos, como vocês
estão? Nós estamos bem e muito felizes porque hoje não teremos uma viagem no
tempo, pois dessa vez falaremos sobre uma contemporânea do MMC! Vem com a
gente?
Emmanuelle Marie Charpentier nasceu
no dia 11 de dezembro de 1968 em Juvisy-sur-Orge, na França. Quando criança,
crescendo na capital Paris, ela era encorajada por seu pai, gerente de um
parque, e sua mãe, que trabalhava na área da Psiquiatria, a explorar seus
próprios interesses acadêmicos, os quais eram muitos. Emmanuelle se recorda de
ser uma estudante muito séria, além de se interessar por muitas coisas
diferentes, desde Ciências da Natureza e Matemática até as Ciências Humanas,
como Psicologia, Sociologia e Filosofia. Também recorda de seu pai lhe
ensinando o nome das plantas em latim e acredita que isso tenha influenciado
ela a seguir a carreira científica.
Entre os anos 1980 e 1990,
Emmanuelle foi para a Universidade de Marie e Pierre Curie (que
atualmente faz parte da Universidade de Sorbonne) para cursar a Graduação e a
Pós-Graduação. Ela recebeu o diploma de Graduação em Bioquímica em 1991 e de
doutora em Microbiologia em 1995, aos 27 anos. Quando Emmanuelle anunciou para
a família que faria sua pesquisa de Pós-Graduação no Instituto Pasteur, sua mãe
não se surpreendeu, pois relembrou que, aos 12 anos, Emmanuelle havia anunciado
que no futuro trabalharia lá. Portanto era um sonho que se realizava!
O laboratório era como uma casa para
a Emmanuelle Charpentier e foi lá que percebeu que ser cientista combinava
muito com sua personalidade! Ela era curiosa, tinha uma grande sede por
conhecimento, apreciava disseminar e divulgar conhecimento para as outras
pessoas e trabalhar em equipe, além de seu desejo de transformar descobertas
científicas complexas em aplicações práticas que ajudassem a sociedade. Ela
estava muito feliz por ser cientista!
Em 1996, mudou-se para os Estados
Unidos da América (EUA), onde, durante os próximos cinco anos, ocupou a função
de pesquisadora associada em três instituições na cidade de Nova York: na
Universidade Rockefeller, no Centro Médico Acadêmico de Langone da Universidade
de Nova York e no Instituto de Medicina Biomolecular de Skirball. Além de ter
permanecido um período no Hospital de Pesquisa Infantil St. Jude em Memphis,
Tennessee.
Em 2002, Emmanuelle Charpentier
voltou à Europa para seguir a carreira científica com seu próprio grupo de
pesquisa nos Laboratórios de Max F. Perutz, na Universidade de Viena na
Áustria, onde ela se estabeleceu no campo da Microbiologia. Então, foi nomeada
Professora Associada e depois Professora Convidada no Laboratório de Medicina
de Infecção Molecular da Suécia (LMIMS, sigla em inglês para “Laboratory for Molecular Infection Medicine
Sweden”) na Universidade de Umeå, onde se especializou no campo da
Microbiologia Medicinal. Desde 2013, Emmanuelle é chefe do Departamento de
Regulamento em Biologia da Infecção, no Centro Helmholtz de Pesquisa de
Infecção, e professora na Faculdade de Medicina de Hannover, na Alemanha.
Emmanuelle Charpentier após ser laureada com o prêmio “Canada Gairdner International Award” em 2016, após sua conferência na Universidade de York, Toronto, Canadá - Fonte: Wikimedia Commons; Licença: CC BY-SA 4.0.
Enquanto estava em Viena, Emmanuelle
se interessou por mecanismos regulatórios em bactérias que envolvem pequenas
moléculas de RNA. Quando se mudou para Umeå, Suécia, ela desenvolveu o projeto
CRISPR-Cas9. Um tipo de RNA, o crRNA de ativação em trans (tracrRNA), ganhou
sua atenção no laboratório. Esse RNA foi localizado na vizinhança de sequências
ímpares de DNA, conhecidas como CRISPR ou “repetições palindrômicas curtas
agrupadas e regularmente espaçadas”. Quando um vírus ataca a bactéria, um
“pedaço" da identidade genética do invasor é armazenado nas sequências
CRISPR e depois é usado para repelir o vírus, se ele atacar novamente.
Os sistemas CRISPR-Cas evoluíram
extensivamente em bactérias. Ninguém sabia, no entanto, exatamente como era o
processo para o chamado sistema tipo II (CRISPR-Cas9). Em 2011, Emmanuelle
publicou um artigo na revista científica Nature
que identificou o papel crítico que a ativação em trans do crRNA CRISPR
(tracrRNA) desempenha no desenvolvimento do vírus mediado por CRISPR.
No mesmo ano, durante uma
conferência em Porto Rico, Emmanuelle conheceu a bióloga estrutural
estadunidense Jennifer A. Doudna, da Universidade da Califórnia, em Berkeley,
que estava investigando como os sistemas CRISPR funcionavam, mas em uma
perspectiva estrutural. Elas, então, decidiram trabalhar juntas. Com relação ao
início dessa parceria, Emmanuelle comentou:
“Eu
queria ter a estrutura do complexo Cas9 para investigar as possibilidades de
reduzir o sistema ao mínimo e identificar a posição de todos os domínios ativos
na estrutura do complexo. Nós duas fomos complementares e isso tornou o
trabalho em conjunto, mesmo a longas distâncias, muito agradável.”
Emmanuelle Charpentier na Noruega, em 2017 - Fonte: Thor Nielsen / NTNU; Licença: CC BY-SA 2.0.
No ano seguinte, em agosto de 2012,
Emmanuelle e Jennifer publicaram um artigo na revista Science que transformou o campo da Genética Molecular. Elas
mostraram que quando as bactérias são invadidas pela segunda vez por um vírus,
uma cópia da informação genética viral armazenada nas sequências de CRISPR (que
é expressa como o tracrRNA duplo: crRNA) recruta uma proteína chamada Cas9, que
depois procura e destrói o DNA viral, essencialmente por cortá-lo. Esta
descoberta trouxe uma abordagem nova e emocionante para a edição de genoma,
pois oferece uma técnica do tipo cirúrgica para remover ou adicionar o DNA em
posições intencionadas. A tecnologia já está sendo usada em muitos laboratórios
em todo o mundo para ajudar a desenvolver novos tratamentos para uma ampla gama
de doenças humanas e doenças genéticas.
Emmanuelle Charpentier recebeu
muitas honrarias e prêmios, incluindo o Prêmio Göran Gustafsson pela Academia
Real das Ciências da Suécia (2014); o Grande Prêmio Jean-Pierre Lecocq da
Academia Francesa de Ciências (2014); o Prêmio Dr. Paul Janssen (2014); o
Prêmio Jacob Heskel Gabbay em Biotecnologia e Medicina (2014); uma cátedra de
Alexander von Humboldt (2014); o “Breakthrough
Prize in Life Sciences” (“Prêmio de Inovação nas Ciências da Vida”, em
tradução livre) (2015); o Prêmio Louis-Jeantet de Medicina (2015); o Prêmio
Ernst Jung de Medicina (2015); o Prêmio Tecnologia Mundial para Biotecnologia
(2015); o Prêmio Leibniz (2016); o Prêmio Internacional da Fundação Gairdner
(2016); o Prêmio Paul Ehrlich e Ludwig Darmstaedter (2016); a Ordem Nacional de
Legião de Honra Francesa (2016); o Prêmio da Fundação Warren Alpert (2016); o
Prêmio Novozymes (2017) e o Prêmio Kavli em Nanociências (2018).
Então, em 2020, Emmanuelle Charpentier foi laureada com o Prêmio Nobel de Química “pelo desenvolvimento de um método de edição de genoma”i. Ela recebeu a premiação juntamente com sua parceira Jennifer A. Doudna. Pela primeira vez o Nobel de Química foi dividido entre duas mulheres!
Da esquerda para a direita: Jennifer
A. Doudna, Virginijus Šikšnys e Emmanuelle Charpentier
Fonte: Thor Nielsen / NTNU; Licença: CC BY-SA 2.0.
Atualmente Emmanuelle Charpentier
mora na Alemanha, onde é presidenta do Departamento de Biologia de Infecções do
Centro de Helmholtz para Pesquisa de Infecção e Professora na Faculdade de
Medicina de Hannover. Ela também permanece afiliada ao Laboratório de Medicina
de Infecção Molecular da Suécia e é membra da Academia de Ciências de Nova
York, da Academia Americana de Microbiologia, da Organização Europeia de
Biologia Molecular (EMBO, sigla do inglês “European
Molecular Biology Organization”), da Academia Real de Ciências da Suécia, e
da Academia Europeia de Ciências e Artes.
E então, o que acharam? Nós do MMC
nos emocionamos muito com a conquista de Emmanuelle e Jennifer! Pela primeira
vez tivemos duas mulheres sendo laureadas juntas com o Nobel de Química! Foi um
dos momentos mais lindos das Ciências, em especial, para as autoras deste
texto, todas da área da Química! A história de Emmanuelle Charpentier nos
inspirou e nos inspira todos os dias, esperamos que tenham gostado de
conhecê-la também!
Abraços apertados a distância,
cuidem-se e até a próxima!
Gabriela Ferreira, Amanda Ribeiro da
Rocha e Glaucia Pantano
Infográfico: Amanda Ribeiro da Rocha
Algumas
curiosidades sobre Emmanuelle Charpentier
Em 2014 Emmanuelle Charpentier foi eleita uma das 100
principais pensadoras globais de política estrangeira e uma das 50 francesas
mais influentes pela revista Vanity Fair.
Em 2015, Emmanuelle Charpentier foi eleita uma das 100
pessoas mais influentes no mundo pela Revista Times.
Emmanuelle sempre adorou a música,
arte e dança. Quando criança, tocava piano, e praticou balé e dança moderna por
muitos anos. De acordo com ela, a arte teve uma influência significativa em sua
carreira científica, pois é necessário ser rigorosa e ao mesmo tempo você tem
que ser livre.
O Prof. Dr. Adriano D. Andricopulo, da Universidade de São
Paulo (USP), organiza anualmente um bolão no qual as pessoas apostam em quem
receberá o Prêmio Nobel de Química e, no ano passado, o MMC foi parceiro da
iniciativa. Em 2020, seis pessoas apostaram em Emmanuelle Charpentier. O
resultado completo pode ser visto em: <https://www.facebook.com/andricopulo/posts/719409488655434>. Quatro integrantes do MMC
também participaram das apostas, a Coordenadora Prof.ª Dr.ª Camila Silveira, a
Prof.ª Dr.ª Glaucia Pantano e as alunas extensionistas Gabriela Ferreira e
Iolanda Ponzetta, apostaram em três pesquisadoras maravilhosas, porém não acertaram.
Mas elas não se abalaram e estão prontas para apostar novamente em 2021 e, quem
sabe, trazer essa vitória para o MMC!
Um pouco
mais sobre Emmanuelle Charpentier
No site do Prêmio Nobel há vários arquivos audiovisuais de
Emmanuelle Charpentier, sendo todas as mídias em inglês.
O momento em que ela recebeu a medalha do Prêmio Nobel está
no link: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2020/charpentier/prize-presentation/>. Observamos uma cerimônia bem
diferente dessa vez, com poucas pessoas ao redor e diversos cuidados, pois o
recebimento do Prêmio ocorreu já durante a Pandemia de Covid-19.
A conferência de Emmanuelle após ser laureada pode ser
assistida em: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2020/charpentier/lecture/>. Novamente ela aparece sozinha,
em função da Pandemia.
Também temos uma galeria de fotos de Emmanuelle disponível
em: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2020/charpentier/photo-gallery/> e a imagem do seu diploma do
recebimento do Prêmio Nobel está em: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2020/charpentier/diploma/>.
Por fim, algumas entrevistas dadas por ela estão disponíveis
em: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2020/charpentier/interview/>.
Acesso em: 1 ago. 21.
Referências
GRUBER FOUNDATION. Emmanuelle
Charpentier. Disponível em: <https://gruber.yale.edu/genetics/emmanuelle-charpentier>. Acesso em: 1 ago. 21.
ROGERS, Kara. Emmanuelle Charpentier – French microbiologist.
Encyclopaedia Britannica, 2020.
Disponível em: <https://www.britannica.com/biography/Emmanuelle-Charpentier>. Acesso em: 1 ago. 21.
THE NOBEL PRIZE. Emmanuelle
Charpentier Facts, c2021. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2020/charpentier/facts/>. Acesso em: 1 ago. 21.
THE NOBEL PRIZE. The
Nobel Prize in Chemistry 2020, c2021. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2020/summary/>. Acesso em: 1 ago. 21.
WARREN ALPERT FOUNDATION. Emmanuelle Charpentier, c2016. Disponível em: <https://warrenalpert.org/prize-recipients/emmanuelle-charpentier>. Acesso: 1 ago. 21.
i Texto original: “for the development of a method for genome editing”.
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