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MMC ENTREVISTA - Rita de Cassia dos Anjos
Na fotografia, a astrofísica Rita de Cassia dos Anjos na Universidade Católica de
Leuven, na Bélgica.
Rita de Cassia dos Anjos, da UFPR de Palotina, vence prêmio nacional de Física
Em 2020, ela ganhou o
Prêmio Programa para Mulheres na Ciência
Por Leandra Francischett
A astrofísica Rita de
Cassia dos Anjos, professora da Universidade Federal do Paraná, setor Palotina,
ganha notoriedade nacional, com repercussão mundial. São algumas das contribuições
das mulheres brasileiras na ciência. No dia 6 de julho, a Sociedade Brasileira
de Física (SBF) anunciou Rita de Cássia vencedora do Prêmio Anselmo Salles
Paschoa de 2022. Esta é a primeira edição deste prêmio, criado para homenagear
pesquisadoras negras e pesquisadores negros em Física, em início da carreira, de
modo a contribuir com o avanço da Física ou do ensino da disciplina no País.
Nascida em Olímpia – SP, Rita
de Cassia tem 39 anos e, apesar da pouca idade, conta com um currículo
admirável. Em 2020, conquistou o prêmio Programa para Mulheres na Ciência,
promovido pela L’Oreal Brasil, Unesco Brasil e Academia Brasileira de Ciências,
que é uma das maiores honrarias para as cientistas brasileiras. Até agosto,
suas pesquisas estão sendo desenvolvidas na Universidade Católica de Leuven, na
Bélgica, por isso Rita de Cassia conversou com o Blog Meninas e Mulheres na
Ciência pela internet.
Ela possui graduação em
Física Biológica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(2007) e mestrado (2009) e doutorado (2014) em Física pela Universidade de São
Paulo, São Carlos. Na UFPR, é professora, pesquisadora atuante em programas de pós-graduação
em algumas universidades e também com atividades de extensão na UFPR.
Gostaria
de começar a entrevista parabenizando pela conquista do Prêmio Anselmo Salles
Paschoa. Como você avalia esta conquista?
Muito obrigada, Leandra.
O Prêmio representa um reconhecimento à pesquisa conduzida pelo Prof. Anselmo
Salles Paschoa e à sua valiosa contribuição para o avanço da física no Brasil.
Além disso, ele ressalta a importância da diversidade racial no cenário
científico brasileiro. Ainda há uma escassez de representatividade em muitos
espaços, e as iniciativas voltadas para a diversidade surgem como uma esperança
para muitos jovens negros(as). Para mim, receber esse prêmio nesta primeira
edição foi uma imensa alegria e uma conquista significativa. Na minha carreira
fiz várias escolhas e tive muitas portas abertas, sinceramente espero que, em
um futuro próximo, essa realidade se estenda a muitos jovens negros,
oferecendo-lhes as mesmas oportunidades.
Você
também já ganhou o prêmio Programa para Mulheres na Ciência. Como você se
sente? O que você acha que foi considerado para que você fosse premiada?
Ter vencido o prêmio
significou muito na minha carreira e me trouxe muitas oportunidades e
reconhecimento entre os meus pares. Quando o recebi, senti que estava no
caminho certo no desenvolvimento da minha pesquisa. O prêmio é concedido às
cientistas que desenvolvem pesquisa de alto nível. Desta forma, reconheceram
que o trabalho que realizo possui qualidade, mesmo sendo realizado em um Campus
distante dos grandes centros de pesquisa. Sou minoria na Universidade e mostrei
que é possível, com o apoio de muitos parceiros, fazer pesquisa de ponta e
incentivar nossos alunos e alunas a trilharem este caminho.
Quais os principais
desafios para as mulheres que fazem ciência no Brasil de hoje?
Ainda são muitos. A
sociedade ainda é um espaço predominantemente liderado pelo gênero masculino e
a academia não é diferente. O efeito tesoura na área de exatas mostra isto. A
proporção de meninas que iniciam a carreira científica é proporcional a dos
meninos, quando vemos os números de bolsistas de iniciação científica. No
entanto, com o avanço da carreira científica, como por exemplo, no doutorado,
nas bolsas de produtividade em pesquisa e em cargos de reitoria de
universidades federais, o número diminui drasticamente. Isto mostra que a
realidade da maternidade e o machismo em muitos ambientes tem efeitos
irreversíveis na carreira das mulheres. A diversidade no meio acadêmico é de
extrema importância para o crescimento e o senso de pertencimento de todos.
Quando a diversidade é ausente, nos deparamos com sentimentos de não pertença
ao local, gerando frustração na carreira e vida de muitas cientistas,
formadoras de outras cientistas. Isso impede que nossas alunas cresçam e se
vejam no contexto acadêmico.
Como
é estudar física no interior do Brasil? Há muitas limitações?
O estudo na graduação e
na formação do físico como pesquisador é excelente no Brasil. O Brasil possui
ótimos centros de pós-graduação, com pesquisadores com muita experiência e
inserção internacional. A grande diferença que temos é na oportunidade de fazer
pesquisa ao final da formação. Atualmente falamos muito da fuga de cérebros no Brasil.
São dez anos ou mais investidos na formação de nossos estudantes e depois
muitos precisam sair do país para continuar tendo as condições necessárias e
permanecer fazendo pesquisa. Mas sou esperançosa e acredito que nos próximos
anos teremos um olhar especial para a pesquisa no Brasil em termos de governo
federal e estaduais. Esta é uma preocupação geral e um país emergente como o
Brasil precisa buscar alternativas e aumentar o investimento em
educação/pesquisa.
Você
trabalha com raios cósmicos de energias acima de 1EeV (Observatório Pierre
Auger) e energias entre 10GeV e 100TeV (Cherenkov Telescope Array - CTA). Poderia
explicar do que se trata?
Minha área de pesquisa é
astrofísica de partículas de altas energias, ou física multimensageira. Raios
cósmicos são partículas (núcleos químicos) com altíssimas energias detectadas
na Terra. Denominamos partículas multimensageiras, partículas como neutrinos e
raios gama que também são partículas energéticas provenientes do cosmo. O
objetivo é saber a origem destas partículas, quais os processos astrofísicos no
Universo que poderiam acelerá-las até altíssimas velocidades e como acontecem
as interações destas partículas durante sua trajetória até a Terra. Os
Observatórios Pierre Auger (raios cósmicos) e Cherenkov Telescope Array (raios
gama - ainda em construção) são extremamente essenciais. É a partir das suas
medidas que desenvolvemos modelos para entendemos a origem e interações destas
partículas.
Para compreender um pouco
mais, deixo aqui o link de uma autobiografia. Nela descrevo um pouco da minha
história juntamente com algumas características da trajetória dos raios
cósmicos:
https://docs.ufpr.br/~ritacassia/img/almanaque_rita.pdf. Este livro faz
parte do projeto Almanaque para popularização de Ciência da Computação,
liderado pela Profa. Maria Augusta Silveira Netto Nunes.
Você é membro do
Observatório de Raios Cósmicos Pierre Auger, em Malargue, na Argentina, e
membro do Observatório Cherenkov Telescope Array - CTA. O que isso significa?
Quais as suas contribuições com essas entidades?
Ser membro destes
Observatórios significa que você está imerso em uma grande colaboração
internacional e possui muitas oportunidades de interação e desenvolvimento de
pesquisas na área de altas energias. Minha primeira colaboração foi o
Observatório Pierre Auger. Meu doutorado foi o estudo de propagação de
partículas extragalácticas. Desde então colaboro dentro do Auger no
desenvolvimento de modelos fenomenológicos para explicar os dados medidos, além
de algumas questões técnicas. O CTA ainda está em construção. Em 2021 aprovamos
o projeto NAPI (Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação) Fenômenos do Universo,
junta à Fundação Araucária. Com este projeto iremos construir uma estrutura do
telescópio médio do CTA, além de duas bolsas para estudantes:
https://www.iaraucaria.pr.gov.br/napi-fenomenos-extremos/. Também oriento meus
alunos (iniciação científica Junior, iniciação científica, mestrado e
doutorado) com temáticas/questionamentos que emergem de discussões das
Colaborações. A ciência é colaborativa. Ambas as colaborações são constituídas
de vários países e diversos cientistas. Participar destes grupos fortalece a
minha pesquisa e a internacionalização do meu grupo.
Como
estão suas pesquisas atualmente?
Tenho trabalhado com
fontes de raios cósmicos Galácticas e extragalácticas, além do estudo de
mecanismos de aceleração dentro destas fontes. Meu objetivo é entender um pouco
mais a morfologia de possíveis fontes aceleradoras de partículas e descrever
com mais detalhes os mecanismos de aceleração envolvidos. Meu grupo de pesquisa
tem se dedicado a esta temática e tenho colaboradores no Brasil e fora.
Quais
os seus planos para os próximos anos?
Para os próximos anos meu
principal objetivo é fortalecer meu grupo de pesquisa e melhorar o poder de
processamento do meu cluster na UFPR - Setor Palotina. Atualmente tenho um
laboratório que não atende as demandas do meu grupo que está crescendo. Tenho
trabalhado para o crescimento do meu grupo e melhoria do laboratório, além de
inserir meus alunos no contexto internacional. Espero conseguir nos próximos
anos.
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